A Igreja, os biomas e a defesa da vida :: Por DOM João José Costa

DOM JO?O JOS? COSTA - ARCEBISPO METROPOLITANO DE ARACAJU (Foto: arquivo pessoal)
A Campanha da Fraternidade teve início em 1964, um ano muito grave para a história do nosso país. De lá para cá, a Igreja, através da CNBB, esteve sempre na vanguarda das discussões espirituais e sociais, envolvendo todas as instâncias e segmentos do catolicismo brasileiro e também diversos outros setores da vida social. Não é de agora que a Igreja se preocupa com os problemas que dizem respeito à ecologia, à necessidade de preservar o meio-ambiente ou de recuperá-lo, conforme o caso. Em 1979 o tema foi “Preserve o que é de todos”. Temas afins foram objetos de outras Campanhas da Fraternidade: 2002, 2004, 2016, por exemplo.
Não é demais dizer que bioma é o conjunto dos seres vivos de uma determinada área. Na biosfera encontram-se os biomas, associações relativamente homogêneas de plantas, animais e outros seres vivos com equilíbrio entre si e com o meio físico. A palavra bioma foi criada pelo ecólogo americano Frederic Edward Clements (1874-1945).
Alguém desavisado poderá perguntar o que é que a Igreja tem a ver com questões que, aparentemente, não lhe diriam respeito, como a preservação e defesa dos biomas brasileiros, quais sejam: a Floresta Amazônica, a Caatinga, a Mata Atlântica, o Cerrado, o Pantanal e os Pampas. São os seis grandes biomas existentes neste país de proporções continentais. Biomas, aliás, muito degradados, uns bem mais do que outros. Todos, porém, carecedores dos maiores cuidados. E quem os deverá cuidar? Os poderes públicos? As forças econômicas exploradoras da natureza? A sociedade em geral? É evidente que todos sem exceção têm a sua parcela de responsabilidade. E a Igreja Católica, como depositária da fé e da verdade que nos têm sido transmitida por meio da Palavra, da Tradição Apostólica e do Magistério, inserida no contexto da sociedade, tem o direito e o dever de conclamar os fiéis e todas as pessoas de boa vontade para as questões que interessam à vida genericamente considerada. O ser humano não está sozinho no Planeta. No caso brasileiro, o ser humano está inserido em todos os biomas, da Amazônia aos Pampas. E de todos eles, homens e mulheres devem cuidar, preservando-os e recuperando-os.
Quando Jesus disse: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham com abundância” (Jo 10,10), Ele não se referiu apenas à vida espiritual, mas à vida em toda a sua plenitude. E a vida humana não pode ser considerada em plenitude se for dissociada do contexto geral. Sem os biomas devidamente preservados, a vida humana corre riscos. A flora devastada arrasta consigo a fauna, que fenece, bem como acarreta o desaparecimento de fontes, nascentes e olhos d’água, que, por sua vez, fazem os rios e riachos deixar de ser perenes. Sem água, as vidas humanas e animal não podem seguir o seu curso natural. Constatam-se secas cada vez mais prolongadas, por exemplo.
Os seis biomas brasileiros aguardam pela ação urgente e precisa de todos nós, de cada um de nós. Cada um de nós tem como contribuir. Tem o que fazer. Tem como fazer algo. A conjugação de esforços resultará em benefícios para os biomas. E os benefícios para os biomas resultarão em benefícios para todos nós. A Igreja Católica defende a vida, ao defender os biomas. E defendendo os biomas, defende a vida em toda a sua plenitude. Vida abundante, como disse Jesus Cristo. Vida como dom precioso de Deus.
DOM JOÃO JOSÉ COSTA - ARCEBISPO METROPOLITANO DE ARACAJU
(*) Publicado no Jornal da Cidade, em 11 de março de 2017. Postagem neste site autorizada pelo autor.