Sucessão e longevidade: os pilares da Votorantim que inspiram empresas familiares
Já parou para pensar em como algumas empresas familiares, como é o caso da brasileira Votorantim, conseguem atravessar gerações, manter a competitividade e ainda serem referência mundial?
A Votorantim é um exemplo e tanto quando se fala de longevidade empresarial no Brasil (107 anos atualmente), com atuação em mais de 16 países e presença em setores que vão de cimento a energia, passando por metais, finanças, agro e novos investimentos.
Com ampla experiência no ambiente corporativo, atuando como Advisor à frente da MORCONE, auxiliando e orientando empresas, especialmente empresas familiares brasileiras a se estruturarem para chegar aos 100 anos, Carlos Moreira aborda sobre a história da Votorantim que pode inspirar mudanças de acordo com a realidade da sua empresa.
Além da resiliência, a história dessa organização é uma aula prática de como o conselho consultivo na sucessão empresarial pode ser um fator determinante para atravessar gerações com equilíbrio, governança e crescimento sustentável.
Votorantim: de empresa familiar a uma gigante de reconhecimento mundial
Fundada em 1918 por José Ermírio de Moraes, a Votorantim começou com uma fábrica de tecidos e, aos poucos, foi diversificando sua atuação.
A entrada no setor de cimento, em1936, foi o primeiro grande salto que consolidou a empresa no cenário nacional. Hoje, são mais de R$ 60 bilhões em ativos, com operações espalhadas pela América Latina, América do Norte, Europa e Ásia.
A virada estratégica, porém, não veio apenas da expansão dos negócios. Ela passou pela coragem de profissionalizar a gestão familiar e, principalmente, criar estruturas robustas de governança corporativa.
Governança e preparação para o futuro
Um dos pilares dessa governança é o modelo adotado pela Votorantim S.A. (VSA), holding que atua como investidora de longo prazo e que centraliza as decisões estratégicas do grupo.
Essa holding opera sob um sistema que une conselhos consultivos, comitês independentes e executivos altamente capacitados, com destaque para o papel do conselho consultivo na sucessão empresarial, como fator fundamental.
Ao longo das décadas, a família Ermírio de Moraes entendeu que a longevidade da empresa dependia de uma gestão pautada na meritocracia, transparência e divisão clara entre propriedade e operação.
Para isso, foi estruturado um conselho consultivo com membros independentes e familiares, permitindo que a experiência do passado se alie à visão estratégica do futuro.
Essa estrutura cumpre três papéis essenciais:
- Preservar os valores da família fundadora;
- Promover decisões estratégicas com base em dados e tendências globais;
- Preparar as próximas gerações para assumir papéis de liderança com responsabilidade.
Sucessão planejada: um diferencial competitivo
Diferente de muitas empresas familiares que se perdem na transição de gerações, a Votorantim planeja sua sucessão com base em critérios claros.
A família participa, mas não de maneira “automática”. Os jovens herdeiros são incentivados a estudar, trabalhar fora, a acumular experiência para, só então, participar dos conselhos ou da gestão.
Essa postura por parte da empresa evita conflitos comuns em negócios familiares e traz uma visão estratégica sobre a empresa como legado coletivo.
Nas palavras de João Schmidt, atual CEO da VSA, “A governança clara e o papel dos conselhos ajudam a dar continuidade ao que foi construído, com espaço para inovação e adaptação constante.”
Os dados falam por si mesmo
Segundo a Fundação Dom Cabral, apenas 10% das empresas familiares de médio porte no Brasil permanecem sob controle acionário da terceira geração. No caso da Votorantim, já são quatro gerações envolvidas na estratégia do grupo, em uma liderança compartilhada entre membros da família e executivos profissionais.
Em 2023, a Votorantim Cimentos completou 85 anos e foi eleita uma das maiores do mundo no setor. Enquanto isso, a VSA segue investindo em inovação e sustentabilidade, com aportes significativos em energia renovável, tecnologia e transição energética, temas que vão além do passado industrial e se conectam com os desafios do futuro.
Conselho consultivo como pilar de inovação e continuidade
Para empresas que desejam se manter relevantes ao longo das décadas, o conselho consultivo na sucessão empresarial se mostra não apenas um instrumento de governança, mas um verdadeiro motor de transformação.
Tenho vivenciado essa realidade na prática atuando como conselheiro e com a bagagem de quase quatro décadas contribuindo para a longevidade de empresas de diversos segmentos, mas com um objetivo em comum: crescer continuamente de forma sustentável.
Na Votorantim, o conselho consultivo não é um espaço apenas simbólico para cumprir protocolos de governança, é onde ocorrem debates estratégicos que envolvem riscos, novos negócios, entrada em mercados inovadores e decisões de longo prazo.
A presença de conselheiros com experiência global também garante que a empresa mantenha o olhar além do curto prazo e do contexto nacional.
Além disso, a criação de conselhos consultivos auxilia na:
- Separação entre emoção e razão nas decisões familiares;
- Criação de “rituais de passagem/transição” e planos de desenvolvimento de
sucessores; - Validação de investimentos e alocação de capital com critérios técnicos;
- Preservação da cultura organizacional com abertura para a inovação.
O que a sua PME pode aprender com a Votorantim?
Quando se pensa em uma empresa com uma grande bagagem como é o caso da Votorantim, é natural que muitos gestores pensem: “Mas isso é tão fora da realidade da minha empresa”. Porém trago aqui uma verdade incontestável:
O princípio da governança sólida é escalável.
Seja em uma empresa com 10 profissionais ou em um grupo com operações internacionais, o papel do conselho consultivo pode ser adaptado à realidade da organização.
O mais importante é que esse conselho funcione como um espaço estratégico, não apenas operacional, e que tenha voz ativa nas decisões críticas de transição e sucessão.
Mas vale ressaltar que não se trata de replicar iniciativas, mas de pensar em como criar uma estrutura de governança que abarque a realidade do seu negócio.
Em muitos casos, principalmente das PMEs, o conselho consultivo é a porta de entrada para uma governança corporativa sólida.
Longevidade não é fruto do acaso
É resultado de decisões estruturadas, feitas no presente, com visão de futuro. E o conselho consultivo, quando eficiente, se torna um instrumento poderoso para garantir que o legado familiar se converta em prosperidade contínua.
A Votorantim nos mostra que é possível honrar a história, sem abrir mão da inovação. E que a sucessão, quando planejada com inteligência, pode ser o alicerce de um novo ciclo de crescimento.
Se sua empresa deseja atravessar gerações, talvez o momento de estruturar um conselho consultivo seja agora, antes que a sucessão se torne um problema.
Carlos Moreira - Há mais de 37 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria), CCO (Diretor Comercial e de Marketing). e Conselheiro Administrativo.