Caso Felca: cortina de fumaça para censura sob pretexto infantil :: Por Bia Muniz
Olha… vou começar confessando: eu não queria escrever sobre isso. Não combina com a minha prateleira habitual que vai de tendências de alfaiataria a fofocas saborosas do colunismo social. Eu sei lidar com tecidos, cortes e discursos persuasivos, mas não com esse nó na garganta que esse assunto dá. Só que, como mulher, psicóloga, advogada, mãe e avó, chega um momento em que você olha para o país, respira fundo e pensa: “Bia, tira o blazer, arregaça as mangas e vai.” Pois é. Aqui estou.
Proteção da infância não é assunto para debate de boteco nem para desfile temático: é crime hediondo quando violada, ponto final. Mas no Brasil, minha gente, até a pauta mais sagrada vira desfile de vaidades ideológicas e pior, passarela para projetos de censura travestidos de preocupação moral.
O gatilho da vez atende pelo nome de Felipe Bressanim Pereira, o Felca, que largou um vídeo de 50 minutos sobre “adultização” de crianças nas redes e virou trending topic com mais de 34 milhões de visualizações. Ele fez o que muito jornalista, autoridade e influencer de sofá nunca fizeram: expôs como algoritmos podem replicar comportamento de pedófilos, conectar criminosos e espalhar imagens de menores sexualizadas. No pacote, derrubou perfis, jogou luz no caso do Hytalo Santos e conseguiu o feito inédito de colocar Érika Hilton e Nikolas Ferreira na mesma trincheira, um encontro improvável digno de Paris Fashion Week, só que com roteiro policial.
Mas, e aqui vem o mas que separa a análise séria da onda do momento, o Brasil não acordou para isso agora. Em 2023, quando “O Som da Liberdade” chegou às telas gritando sobre tráfico sexual infantil, parte da grande imprensa e da esquerda rotulou de “delírio da extrema direita” ou “mobilização bolsonarista”. Quando Damares Alves denunciou abusos na Ilha de Marajó, virou meme, piada, alvo de pedidos de cassação. CPI? Não assinaram. Cadastro Nacional de Pedófilos? Lei aprovada, governo Lula não implementou. Castração química? Aumento de penas? Barrados por Janones, PSOL e a maioria do PT.
Curioso, para não dizer cínico, é ver agora, embalados pelo sucesso de Felca, esses mesmos setores abraçando a causa com a súbita urgência de quem descobriu o TikTok ontem. Mas, atenção: não querem leis para endurecer pena de abusador, querem leis para regular redes e derrubar perfis sem ordem judicial, só na base da denúncia. É como se, para matar uma barata, resolvessem tacar fogo no apartamento inteiro.
E é aqui que o salto alto dá lugar à bota de combate: quando a pauta da infância vira peça de marketing político, a prioridade deixa de ser a criança e passa a ser a narrativa. Os mesmos que hoje posam de guardiões já defenderam “performances” com crianças tocando homens nus, bancaram com dinheiro público “Cavalo Tarado” e acharam graça em livro infantil com piada sobre ator pornô. Mas, quando dá capital político e chance de controlar o ambiente digital… ah, aí vestem a capa de super-herói.
Adultização é impor padrões adultos a crianças, seja sexualizando, explorando no trabalho ou expondo na vitrine digital. É crime. E crime sério pede resposta séria: leis duras, verificação real de idade nas plataformas, proibição de monetização com menores e punições exemplares. Mas isso não pode vir embrulhado com o pacote autoritário da censura.
O caso Felca deveria ser o ponto de partida para encurralar pedófilos e responsabilizar plataformas. No entanto, no meio do caminho, virou atalho para controlar discurso e calar opositores. Quem sequestra essa pauta para fins políticos não só trai a democracia, mas também as crianças que seguem vulneráveis, enquanto poderosos discutem quem vai apertar o botão de delete na internet.
Volto para o meu universo de passarelas e tendências, mas, como avó, preciso dizer algo sem firulas: proteger criança não é modinha, é dever inegociável. E dever não se desfila, se cumpre com a firmeza de um salto que não vacila na passarela. Se isso fez sentido para você, curta, comente, compartilhe com um amigo e não permita que usem nossas crianças como biombo para censurar a sua voz.
*Bia Muniz é aposentada e articulista do Portal Fausto Leite.