Mais uma vez... :: Por José Lima Santana
José Lima Santana*

Mais uma vez, como dizia a acadêmica Maria Thetis Nunes, eis a “corrida de cavalos” em ação. Faleceu, na última segunda-feira, 6, a professora Carmelita Pinto Fontes, poetisa de mão cheia, ocupante da cadeira nº 38 da Academia Sergipana de Letras, que deixou um enorme legado na educação e na cultura do nosso Estado.
Não bem o presidente José Anderson Nascimento comunicou pelas mídias digitais o falecimento da ilustre mulher de letras e de vivência em sala de aula, ainda na segunda-feira, por volta das 22 horas, alguém já me ligava, pedindo o meu voto para ocupar a cadeira por ela deixada. Não bem amanhecia a terça-feira, outra pessoa também me ligou, perguntando se podia contar com o meu voto e se eu me incomodava de antecipar o voto, entregando-lhe. Puxa! Que pressa! E que desconfiança danada, para já ter em mãos o voto pretendido. Eu não tenho, nunca tive contato aproximado com essas duas pessoas. Conheço-as de vista, mas não conheço a obra literária dessas duas pessoas. Nem sei o que escrevem, e se escrevem.
Recebi, ainda na terça-feira, outra solicitação, mais ponderada, de alguém que eu conheço e que tem méritos como escritora. O problema nisso tudo é que nem bem a pessoa falece e já começa a chamada “corrida de cavalos”, repito, na expressão da nossa historiadora Maria Thetis. É de arrepiar.
Parece que há uma aura esplendorosa nas Academias (e, agora, em cada esquina há uma, seja lá do que for, embora não sou contra a proliferação de Academias, desde que tenham objetivos e valores a ser expressados), que leva algumas pessoas a suspirarem, a almejarem, e, por consequência, a correrem atrás de votos, com o corpo do (a) acadêmico (a) que se foi, ainda “quente”. Que tristeza! As pessoas devem pensar assim (mas, não deveriam!): “Preciso chegar primeiro para cortar a fita na reta de chegada. Logo, tenho que largar à frente de todos”. Não é assim. Não deveria ser assim.
Qualquer Academia de Letras deve ser formada por quem tem expressão literária, não somente em livros, mas também em publicações noutros veículos de divulgação da literatura, ou, como dizem alguns, do “beletrismo” em suas diversificadas manifestações.
Vamos, ao menos, aguardar o momento exato de conhecermos os postulantes e sua obra literária. Vamos verificar os valores, não pessoais ou de títulos, dos candidatos, mas os valores de sua arte literária, na poesia, no conto, no romance, na crônica, no ensaio, nas letras infantis, na história, até mesmo na literatura técnica em vários campos do saber etc.
Estou pronto para votar em quem melhor possa se apresentar, pleiteando a cadeira ocupada até a última segunda-feira por Carmelita Pinto Fontes. Que alguém o faça por merecer. Que alguém possa sucedê-la, no mínimo, no mesmo nível intelectual dela. Tem muita gente boa nas artes literárias sergipanas. Até quem se antecipou em sair à cata de votos. Mas, cautela! Não sou eu palmatória do mundo. Longe disso. Não sou Catão, o Velho, na Roma Antiga. Meu Deus, quem sou eu? Um naco frágil no mundo literário sergipano. Todavia, cioso de quem vai tomar assento na entidade máxima das letras do nosso tão querido Sergipe.
Na quarta-feira, 8, um destacado homem de letras jurídicas, com repercussão no eixo Sergipe-Brasília, foi anunciado por alguns membros da ASL como outro postulante à vaga de Carmelita. Enfim, poderemos ter um bom embate. Vamos ver.
Que cada postulante, no momento adequado, lute para preencher a cadeira vaga. Traga para o nosso Cenáculo a sua obra, o seu valor, a sua contribuição para elevar o nome da nossa augusta entidade literária.
Por fim, cantemos com Carmelita: “ – O tempo desbotou o verde / deixado nos faróis. / E eu estou parada / Na noite / Acendendo em cada esquina / Um sinal vermelho”.