Quedas colocam em risco a autonomia de idosos

Projeto universitário oferece atividades para prevenir acidentes e melhorar a qualidade de vida

Entre os vários desafios do envelhecimento, as quedas figuram entre os maiores riscos à saúde e à independência na terceira idade. Dados do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil) apontam que aproximadamente 25% das pessoas com mais de 60 anos que vivem em áreas urbanas sofrem pelo menos uma queda anualmente. Após a primeira ocorrência, o receio de cair novamente costuma levar à diminuição da participação em atividades físicas e sociais, gerando perda de mobilidade, redução da autonomia e favorecendo o surgimento de outras condições de saúde.

“O envelhecimento provoca perda de massa magra, o que impacta diversos aspectos do organismo. Nesse cenário, alongamentos, exercícios de flexibilidade, fortalecimento muscular e atividades aeróbicas praticadas regularmente podem gerar efeitos muito positivos na saúde dos idosos”, explica o professor de Educação Física Lúcio Flávio Costa, que cursa o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente (PSA) da Universidade Tiradentes (Unit).

A manutenção de um bom condicionamento físico é apontada como um fator essencial na prevenção de quedas. Segundo Lúcio, investir nessa área reduz consideravelmente o risco. “O condicionamento físico envolve variáveis como composição corporal, força e resistência muscular, flexibilidade e capacidade aeróbica. Quando a pessoa mantém um bom preparo físico, a preservação da saúde e a diminuição da probabilidade de quedas são muito maiores, embora fatores ambientais e externos, como uso de medicamentos, também exerçam influência”, ressalta.

Projeto Masterfitts e prevenção

Realizado desde 2018 quando o Prof. Pablo Marcos da Universidad de Almería veio fazer seu pós-doutoramento Unit, o Projeto Masterfitts oferece treinos personalizados e supervisionados a idosos atendidos por Unidades Básicas de Saúde (UBS) próximas ao campus Farolândia da Unit. “Nosso objetivo é melhorar o bem-estar físico e mental, reduzir o risco de quedas e reforçar a autonomia funcional”, afirma Estélio Dantas, professor do Programa de Biociências e Saúde, do curso de Medicina da Unit e coordenador do Laboratório de Biociências da Motricidade Humana (LABIMH).

Cada tipo de exercício no programa tem papel específico no equilíbrio e na mobilidade dessa faixa etária:

• Força Muscular: Fortalecer pernas, core e membros superiores aumenta a estabilidade, facilita atividades do dia a dia, como levantar-se ou subir escadas, e melhora a reação diante de desequilíbrios.
• Flexibilidade: Alongamentos e exercícios de flexão aumentam a amplitude de movimento, favorecendo postura adequada, mais liberdade nos gestos e menor chance de lesões. Também contribuem para coordenação e equilíbrio, proporcionando deslocamentos mais seguros.
• Resistência Aeróbica: Embora o circuito não seja voltado exclusivamente para treinos aeróbicos, a combinação de força e flexibilidade também traz benefícios cardiovasculares, importantes no controle de doenças crônicas como hipertensão e diabetes, que afetam equilíbrio e locomoção.

A aplicação da Bateria de Avaliação de Risco de Quedas (BARQ), criada pelo próprio projeto, já demonstrou queda significativa no risco entre os participantes. Embora resultados completos ainda aguardem publicação acadêmica, há relatos práticos de transformação. “Temos casos de idosos que chegaram com dores, cansaço e histórico frequente de quedas e, depois do programa, voltaram a frequentar eventos familiares e sociais”, conta Lúcio, que também conduz as atividades.

Atualmente, o Masterfitts atende cerca de 180 idosos por semestre e já beneficiou aproximadamente 1.490 pessoas desde seu início, mantendo um núcleo de mais de 60 participantes fixos há mais de um ano. “Essa constância mostra a relevância e os resultados do projeto na vida dessas pessoas. Apesar de termos perdido alguns integrantes ao longo dos anos, a continuidade e a adesão reforçam a importância e a efetividade da iniciativa”, observa Estélio.

Formação de futuros profissionais

Um dos diferenciais do Masterfitts é envolver estudantes de Medicina, Educação Física, Enfermagem e Psicologia na execução das atividades. Sob orientação de professores, eles realizam desde avaliações cardiovasculares pré-treino até palestras sobre nutrição, prevenção de quedas e saúde mental. “Essa vivência prepara para lidar com um público que será cada vez mais comum no contexto brasileiro”, destaca Estélio.

Para Lúcio, a orientação às famílias e aos idosos é direta: antes de iniciar qualquer atividade física, é fundamental passar por avaliação médica e buscar acompanhamento profissional. “Não é seguro seguir treinos de vídeos aleatórios na internet. Cada pessoa precisa de exercícios adaptados à sua realidade”, alerta. Com base científica e supervisão qualificada, o Masterfitts prova que é possível envelhecer com mais autonomia, segurança e qualidade de vida.