Aracaju (SE), 24 de novembro de 2025
POR: Daiana Barasa
Fonte: Agência de Notícias Naiá
Em: 21/11/2025 às 17:21
Pub.: 24 de novembro de 2025

Sem controladoria, PMEs crescem no escuro, e os números já mostram o impacto

Grande parte das pequenas e médias empresas (PMEs), principalmente familiares, vivenciam um problema recorrente:

  • Crescer rápido demais, sem consolidar sua estrutura financeira. É como acelerar um carro sem olhar o painel, você até ganha velocidade, mas ignora sinais críticos.

Com ampla experiência no ambiente corporativo, atuando como Advisor à frente da MORCONE, Carlos Moreira tem auxiliado e orientado empresas, especialmente empresas familiares brasileiras a se estruturarem para chegar aos 100 anos.

Neste artigo, o especialista traz reflexões sobre algo em que acredita profundamente: crescer sem uma controladoria eficaz é avançar sem visibilidade.

Ele discute sobre o papel estratégico da controladoria nas PMEs, como pode funcionar como uma “segunda opinião” e de que forma o conselho consultivo e a governança entram nessa equação.

O contexto urgente: dados que não podemos ignorar

Para ilustrar a gravidade da situação, basta olhar para alguns dados recentes:

  • Segundo a CNN Brasil, o número de empresas inadimplentes no Brasil chegou a 7,2 milhões em 2025, sendo que 6,8 milhões delas são Micro e Pequenas Empresas (MPEs), com dívidas acumuladas de mais de R$ 141,6 bilhões;

  • No mesmo levantamento, fica evidente que os pedidos de recuperação judicial cresceram 61,8% em 2024, totalizando 2.273 solicitações;

  • Além disso, análise do Serasa Experian relatou que as MPEs lideraram esse movimento, com um salto de 78,4% nos pedidos de recuperação judicial;

  • Paralelamente, uma pesquisa recente do Instituto Locomotiva mostra que 90% das PMEs enfrentam crises por má gestão financeira, especialmente pela falta de estrutura e planejamento.

Esses números refletem a fragilidade das PMEs quando crescem sem controle. E aqui entra o papel crítico da controladoria.

Controladoria como “segunda opinião”: por que sua PME precisa dela?

Quando falo em controladoria, não estou me referindo apenas à contabilidade tradicional. A controladoria nas PMEs, bem estruturada, oferece:

  1. Visão estratégica: vai além de registrar receitas e despesas, promovendo projeções financeiras, análises de investimentos e simulações de cenários;

  2. Radar de riscos: identifica desvios de rota antes que eles se tornem crises, por exemplo, margem de lucro comprimida, endividamento mal estruturado, ou desalinhamento entre contas a pagar e receber;

  3. Transparência real: com controles e relatórios robustos, a empresa enxerga o que está escondido na DRE (Demonstração do Resultado do Exercício), não apenas o que parece bom no papel.

Muitas PMEs familiares que acompanho acabam tratando o DRE como uma formalidade. Mas se não houver uma análise técnica, uma “segunda opinião” experiente, você corre o risco de confundir crescimento de faturamento com crescimento sustentável.

Conselho consultivo e governança: profissionalizando o processo

Aqui entra outra peça fundamental: o conselho consultivo. Em PMEs, sobretudo as familiares, a figura do conselheiro experiente tem se mostrado transformadora. Por quê?

  • Olhar externo estratégico: conselheiros com background em finanças e gestão ajudam a interpretar os números além do óbvio, identificando padrões preocupantes e sugerindo ações corretivas;

  • Pressão saudável por disciplina: com conselheiros atentos, a empresa tende a adotar práticas mais maduras de governança, como reuniões periódicas, KPIs financeiros, revisões de orçamento e análises cruzadas entre DRE, fluxo de caixa e balanço patrimonial;

  • Planejamento de longo prazo: além da gestão operacional, o conselho consultivo contribui para decisões mais estruturadas sobre expansão, captação, alocação de recursos e financiamento.

Minha experiência como consultor e conselheiro mostra que conselhos bem estruturados ajudam a transformar empresas com potencial em organizações preparadas para o futuro, em vez de negócios vulneráveis em tempos de adversidade.

O que a DRE pode estar escondendo?

A DRE, quando lida apenas superficialmente, pode mascarar muitos riscos. Sem uma controladoria ativa e um conselho consultivo questionando e interpretando:

  • Receitas pontuais (como pedidos grandes ou eventos excepcionais) podem dar a falsa impressão de sucesso, escondendo que a margem real é baixa;

  • Custos fixos escondidos ou sobressalentes (salários, manutenção, provisões) podem corroer o lucro de forma gradual e silenciosa;

  • Endividamento mal estruturado (juros altos, prazos curtos) pode comprometer o fluxo de caixa futuro, mesmo que hoje a empresa pareça saudável;

  • Problemas de liquidez podem não aparecer claramente, se a empresa não cruzar os dados da DRE com projeções, orçamento e fluxo de caixa realista.

Sem esse “olhar técnico”, crescer pode ser apenas uma ilusão frágil.

Implantando uma controladoria estratégica e um conselho consultivo

Se você lidera ou participa da gestão de uma PME, aqui estão alguns passos práticos para fortalecer sua estrutura financeira, profissionalizar processos e construir governança:

  1. Diagnóstico inicial

  • Identifique os gargalos financeiros mais críticos: previsibilidade de receitas, liquidez, endividamento;

  • Invista em uma consultoria ou em um conselheiro externo experiente para um primeiro diagnóstico, mesmo sem ainda ter um conselho formal.

  1. Implementação da controladoria

  • Estruture relatórios claros: DRE, fluxo de caixa, balanço, projeções;

  • Defina KPIs financeiros: margem, liquidez, endividamento, ponto de equilíbrio, entre outros;

  • Estabeleça reuniões periódicas para analisar esses relatórios e discutir hipóteses de cenários futuros.

  1. Formação do conselho consultivo

  • Selecione conselheiros com experiência em finanças, governança e gestão;

  • Estruture encontros regulares (mensais ou trimestrais) para revisar os números e propor ajustes estratégicos;

  • Incentive uma cultura de prestação de contas e diálogo, em que a governança seja vista como valor, não custo.

  1. Cultura de transparência e disciplina

  • Promova a separação entre a pessoa física e a jurídica, especialmente em empresas familiares;

  • Incentive a prestação de contas formal, com relatórios objetivos e metas claras;

  • Use a controladoria para alimentar o planejamento financeiro anual, o orçamento e as decisões de investimento.

Benefícios concretos (e tangíveis)

Quando uma PME investe em controladoria e conselho consultivo:

  • Reduz drasticamente o risco de crises de liquidez e insolvência;

  • Ganha previsibilidade para planejar crescimento sustentável;

  • Potencializa a alocação inteligente de recursos, evitando desperdícios;

  • Eleva seu nível de governança, tornando-se mais atraente para investidores, parceiros ou financiadores;

  • Constrói resiliência para enfrentar os ciclos econômicos, taxas de juros elevadas e choques externos.

O próximo passo para quem deseja crescer com segurança

Em momentos de crescimento, muitas PMEs enfrentam o dilema de avançar rápido demais sem estrutura. Eu insisto: avançar sem uma controladoria eficaz é navegar no escuro.

Para evitar cair nas estatísticas alarmantes de inadimplência ou recuperação judicial, que hoje atingem milhões de MPEs no Brasil, é preciso combinar visibilidade financeira, governança e um olhar estratégico externo, por meio de um conselho consultivo.

Essa combinação não é apenas “bom para ter”: é essencial para garantir sustentabilidade, longevidade e, de fato, crescimento de valor.

Se você lidera uma PME e ainda não investiu nisso, pergunte a si mesmo: estou crescendo com segurança, ou estou apenas romantizando o caos?

Carlos Moreira - Há mais de 37 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria), CCO (Diretor Comercial e de Marketing). e Conselheiro Administrativo.

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