Pesquisa sobre conversão de gás carbônico une cientistas de Sergipe e de Portugal
Projeto de pós-doutorado fortalece parceria entre a Unit e a Universidade de Coimbra no desenvolvimento de tecnologias limpas e sustentáveis para enfrentar a crise climática, além de gerar insumos para a indústria

A busca pelo desenvolvimento de materiais inovadores e de baixo custo para materiais a captura e conversão de gás carbônico, enfrentando os efeitos causados pelas mudanças climáticas, levou uma professora a pesquisadora da Universidade Tiradentes (Unit) a iniciar um pós-doutorado na Universidade de Coimbra (UC), em Portugal, uma das mais antigas e tradicionais instituições de ensino da Europa. Juliana Faccin De Conto, professora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PEP/Unit), está desde o início deste mês de setembro na histórica cidade portuguesa, onde ficará por um ano em estudos e atividades junto ao Departamento de Engenharia Química (DEQ) da instituição.
A pesquisa que será realizada durante o pós-doutoramento pretende desenvolver aerogeis híbridos de Sílica/MOF para posterior aplicação na captura e conversão de CO2. (gás carbônico). Os aerogeis, também chamados de “fumaça sólida”, são materiais sólidos porosos extremamente leves, feitos a partir de um gel cuja parte líquida foi substituída por um gás. Em geral, eles são feitos usando MOFs (estruturas metal-orgânicas), que também são materiais porosos, mas com uma estrutura cristalina formada por centros metálicos ligados a moléculas orgânicas.
“Devido ao alto custo das MOFs, é necessário desenvolver materiais que minimizem o custo de aplicação desses materiais para aplicação em larga escala, porém que mantenham suas características. Dessa forma, a pesquisa será direcionada para o desenvolvimento desse novo material juntando dois adsorventes porosos (sílica e MOF)”, explica Juliana, frisando que este desenvolvimento busca reduzir os custos de aplicação das MOFs sem comprometer suas propriedades estruturais e funcionais, de modo a viabilizar seu uso em processos sustentáveis em escala industrial.
Os estudos vão seguir três focos principais: a mitigação de emissões de gases de efeito estufa, a valorização do gás carbônico como matéria-prima em rotas químicas e a busca por soluções tecnológicas que conciliem eficiência, escalabilidade e viabilidade econômica. De acordo com Juliana, que também é pesquisadora no Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), essas linhas de pesquisa estão em consonância com os projetos que o PEP e o Nuesc desenvolvem no eixo de síntese, modificação e aplicação de materiais avançados em processos sustentáveis.
“O desenvolvimento destes aerogeis contribui diretamente para o enfrentamento das mudanças climáticas, ao propor alternativas inovadoras para mitigar a emissão de gases de efeito estufa. Além de reduzir os impactos ambientais associados ao excesso de CO2 na atmosfera, a pesquisa possibilita a valorização desse gás carbônico como matéria-prima em processos químicos e energéticos, favorecendo a transição para uma economia mais sustentável e circular”, afirma a professora.
A pesquisa em Coimbra está articulada diretamente com o projeto Capicua, que se dedica à busca de processos e soluções inovadoras para a captura, mitigação e aproveitamento do gás carbônico. Ele existe desde 2023 e se constitui como um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), agregando pesquisadores e laboratórios de seis universidades brasileiras (incluindo a Unit) e outras quatro estrangeiras.
Parceria fortalecida
A oportunidade de fazer o pós-doutorado surgiu a partir de uma parceria já existente entre a Unit e a UC, em Coimbra, onde atua um grupo de pesquisa liderado pela professora portuguesa Luísa Rocha Durães, do DEQ, que tem experiência internacional consolidada na área de nanomateriais e aerogeis. E o próprio Departamento de Engenharia Química da UC, criado em 1972, é um dos mais conceituados da Europa e concilia o ensino de qualidade com a pesquisa de ponta, mantendo seu foco na inovação, na sustentabilidade e na ligação com a indústria.
Para a professora da Unit, a vivência em Coimbra possibilita o acesso a técnicas avançadas de síntese e caracterização de materiais, bem como a troca de conhecimento com o grupo coordenado pela professora Luísa Durães. “Essa experiência certamente ampliará a minha visão científica e tecnológica, além de fortalecer redes de colaboração internacional estratégicas para a consolidação e avanço das pesquisas no meu grupo de trabalho na Unit”, considera De Conto, ao falar sobre a cooperação científica entre as duas instituições, que começou em 2022 e permitiu que pelo menos três alunos do PEP/Unit fossem fazer doutorado-sanduíche em Coimbra, desenvolvendo pesquisas conjuntas.
Juliana De Conto está desde 2009 na Unit, onde fez o mestrado e o doutorado no PEP. Foi o que lhe abriu as portas para a contratação como pesquisadora no ITP, em 2015, e depois como professora-doutora do PEP, em 2023. O pós-doutorado representa para ela uma fase mais renovada em sua carreira acadêmica, que começou no curso de graduação em Engenharia de Alimentos da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), em Erechim (RS).
“Acredito que a experiência em um ambiente internacional, com acesso a novas metodologias e redes de pesquisa, me permitirá não apenas aprimorar minhas próprias pesquisas, mas também fortalecer o nosso programa. Enquanto me aprofundo em novas áreas de conhecimento e estabeleço colaborações internacionais, também estou me preparando para retornar com novas perspectivas, técnicas e uma rede de contatos que beneficiará diretamente a pesquisa no PEP e na Unit”, diz ela, ao definir sua experiência em Portugal como “uma via de mão dupla”, que irá construir colaborações duradouras.
A professora também destaca a iniciativa da Unit em apoiar e viabilizar os períodos de pós-doutorado no exterior para os professores de seus cinco programas de pós-graduação stricto sensu. “Essa política institucional, que incentiva a qualificação e o aprimoramento em outras instituições, demonstra a visão de futuro da Universidade. Ela não apenas valoriza a carreira individual do professor, mas também fortalece a produção científica do nosso Programa de Pós-graduação em Engenharia de Processos e cria pontes estratégicas com centros de pesquisa de excelência no exterior”, concluiu Juliana.