Aracaju (SE), 01 de dezembro de 2025
POR: Erenita Sousa
Fonte: Erenita Sousa
Em: 28/11/2025
Pub.: 01 de dezembro de 2025

Idolatria, Desejo Reprimido e o Risco da Perda de Si: Um Olhar Sistêmico Sobre Relações Humanas e Corporativas :: Por Erenita Sousa

Erenita Sousa*

Erenita Sousa - Foto: Erenita Sousa

A linha que separa admiração de idolatria é mais fina do que parece. Admirar alguém é reconhecer seu valor, suas capacidades, sua trajetória. Idolatrar, porém, é colocar o outro em um pedestal que não lhe pertence — e, muitas vezes, nem ele deseja ocupar. Essa diferença nasce de um ponto essencial: a consciência do próprio desejo.

Segundo a visão psicanalítica e sistêmica, toda idolatria carrega a marca de um desejo reprimido. O indivíduo projeta no outro aquilo que falta dentro de si: afeto, validação, sensação de pertencimento ou até mesmo a figura idealizada de um pai ou mãe. Isso acontece porque, em muitos casos, existe uma ferida emocional não reconhecida, que busca reparação por meio do outro.

Nos ambientes artísticos é fácil observar esse fenômeno: pessoas que desconhecem a vida real de um artista, mas que se sentem profundamente conectadas a ele. Não é o cantor ou o ator que elas idolatram — é o que ele simboliza para o seu inconsciente. A música, a história contada, a emoção despertada ativa desejos ocultos que pedem reconhecimento.

No campo corporativo, essa dinâmica se repete de maneira silenciosa.
Há colaboradores que idolatram gestores, líderes ou colegas porque, inconscientemente, estão diante de uma transferência parental. O gestor ocupa, sem saber, o lugar simbólico do pai forte, da mãe que valida, do adulto que deveria ter sido referência emocional. Já o colaborador, ao projetar essa necessidade, passa a se comportar como criança emocional, entregando expectativas que não são responsabilidade do outro.

A visão sistêmica mostra que toda relação desequilibrada tem origem na violação das ordens internas: lugar, pertencimento e equilíbrio entre dar e receber. Quando alguém idolatra, desloca-se do seu lugar de adulto e cria uma relação verticalizada. Do outro lado, quem é idolatrado corre o risco de inflar o ego, perder a clareza de si e acreditar que seu valor depende da admiração externa — o que gera afastamento da própria essência.

A idolatria exagerada é prejudicial para ambos.
Quem idolatra permanece preso ao desejo reprimido e às frustrações, pois deposita no outro a responsabilidade por sua satisfação emocional. Já quem é idolatrado pode adoecer pela vaidade, pelo excesso de valorização ou pela sensação ilusória de superioridade.

A saída para essa dinâmica é o caminho do autoconhecimento. Reconhecer padrões, olhar para as próprias carências afetivas, compreender as transferências emocionais e ocupar o lugar de adulto. Assim, a admiração permanece saudável, o ego se mantém no lugar certo e as relações se tornam mais verdadeiras.

Quando o indivíduo escolhe a consciência, ele deixa de projetar e passa a se posicionar. E, a partir daí, floresce o equilíbrio — interno, relacional e sistêmico.

Com escuta, propósito e verdade,
Erenita Sousa
@erenita_sousa

*Contadora, jornalista, psicanalista, mentora e consteladora sistêmica familiar e empresarial.
Atua no campo terapêutico e empresarial com foco em desenvolvimento humano, posicionamento interno e relações saudáveis no trabalho e na vida.

WhatsApp

Entre e receba as notícias do dia

Matérias em destaque

Click Sergipe - O mundo num só Click

Apresentação