Pesquisador se destaca em estudo com Cannabis e almeja carreira como professor
Com uma trajetória marcada pela dedicação à pesquisa, envolvimento em projetos de extensão e liderança, Alan Bezerra cursa mestrado e tem o desejo de formar novos fisioterapeutas com um olhar crítico e humano

Durante o período de incertezas que acompanha quem está finalizando o ensino médio, uma visita a uma feira de vestibular pode parecer apenas mais um evento do calendário escolar. No entanto, para alguns, esse momento se torna um ponto de virada. Foi exatamente isso que aconteceu com Alan Douglas Bezerra dos Santos. Ao participar da Feivest, a feira de vestibular promovida pela Universidade Tiradentes (Unit), ele teve o primeiro contato direto com a Fisioterapia.
Bastaram poucos minutos assistindo às práticas demonstradas para que suas dúvidas em relação ao futuro fossem substituídas pela certeza de que aquela era a área em que queria atuar. Alan começou o curso em outra instituição, mas decidiu transferir-se para a Unit, atraído pela excelente estrutura e pela reputação do corpo docente. “Ter aulas com professores altamente qualificados foi um diferencial que marcou minha formação. A Unit me ofereceu uma base sólida, tanto na parte teórica quanto prática, essencial para meu desenvolvimento como profissional e acadêmico”, afirma.
Essa base foi sendo construída com vivências que iam além da teoria. A participação em ambientes de simulação realística e no centro especializado de fisioterapia da Unit, onde estagiou, trouxe a confiança necessária para encarar os desafios da carreira. Mas foi na área da pesquisa que ele descobriu uma paixão inesperada e transformadora.
“Antes, eu não sabia o que eram atividades extracurriculares, muito menos o que significava iniciação científica. A universidade me apresentou um novo mundo, e eu estava aberto para viver cada oportunidade. Tudo começou de forma inesperada: após apresentar um seminário, fui abordado por uma professora que me convidou para participar de seu projeto de iniciação científica. Fiquei curioso, perguntei como funcionava e aceitei sem hesitar. Isso mudou completamente o rumo da minha vida acadêmica”, relembra.
A pesquisa
Durante a graduação, os estudos de Alan foram voltados para o potencial antimicrobiano de extratos naturais, incluindo a planta Cannabis sativa. Ele detalha um dos trabalhos realizados. “A proposta era mapear os compostos presentes na Cannabis sativa para identificar aqueles com maior capacidade antimicrobiana. O primeiro estudo foi realizado em ambiente virtual, por meio de simulações computacionais, permitindo uma análise inicial das interações entre os compostos e possíveis alvos biológicos. A intenção era seguir para testes laboratoriais in vitro e, futuramente, in vivo, com o objetivo de desenvolver medicamentos fitoterápicos com ação antimicrobiana”, explica.
A principal motivação por trás do estudo era encontrar alternativas menos tóxicas e menos agressivas ao corpo, com menos efeitos colaterais, contribuindo para tratamentos mais seguros e eficientes para a população. Atualmente, Alan cursa mestrado em Ciências da Saúde na Universidade Federal de Sergipe (UFS), onde continua os trabalhos iniciados na graduação.
“No mestrado, estou justamente dando continuidade ao que não consegui finalizar antes. Agora, estou trabalhando com modelos in vivo e me dedicando bastante às atividades em laboratório, principalmente nos estudos com animais. Compreendo o impacto desses experimentos para o avanço científico e para os benefícios que eles podem gerar na vida das pessoas. Cada dia no laboratório é uma maneira de valorizar o caminho que comecei a trilhar e de contribuir de forma concreta para a saúde pública”, ressalta.
Abordar um tema como o uso medicinal da Cannabis sativa trouxe desafios, especialmente em relação ao preconceito social. “Muitas vezes, ao comentar que pesquisava sobre cannabis, as pessoas imediatamente associavam ao uso recreativo, sem entender o foco científico e terapêutico do estudo. Isso exigiu um trabalho contínuo de desconstrução, tanto pessoal quanto na comunicação com os outros. Mesmo com aplicações reconhecidas, como no controle da espasticidade, a cannabis ainda é cercada de tabus por ser considerada uma substância ilegal no Brasil. Essa experiência me ensinou muito sobre responsabilidade na divulgação científica, ética na comunicação e a importância de seguir firme diante das dificuldades quando se acredita no potencial transformador da pesquisa”, reflete Alan.
Outros projetos
Durante sua graduação, Alan também foi ativo em projetos de extensão. Entre os que mais marcaram sua trajetória está o “Risos da Fisio”, que une fisioterapia e humanização ao levar estudantes a hospitais caracterizados como palhaços para acolher crianças internadas. “A pediatria me despertou interesse ao longo do curso, mas foi nesse projeto que esse sentimento ganhou forma. Ali, percebi que ser fisioterapeuta vai além da técnica e da ciência. A dimensão humana é fundamental. No contato direto com as crianças, com suas famílias e com o ambiente hospitalar, eu cresci como profissional e como ser humano”, conta.
Essa compreensão ampliada do papel do fisioterapeuta, que envolve tanto conhecimento técnico quanto empatia e responsabilidade social, é um dos grandes aprendizados que Alan leva consigo da graduação. “Quando o fisioterapeuta se envolve com a pesquisa científica, ele não apenas executa técnicas, mas também questiona, propõe melhorias e se conecta com as inovações da área. A pesquisa desenvolve o senso crítico, estimula a busca por respostas e nos mantém atualizados com os avanços da saúde. Por isso, acredito que formar profissionais sem esse olhar investigativo é limitar o verdadeiro potencial da fisioterapia”, afirma.
Planos futuros
Agora, com foco voltado para o ensino e a continuidade da pesquisa, Alan sonha em ajudar na formação de novos fisioterapeutas e contribuir com estudos que ofereçam soluções concretas para os desafios enfrentados na área da saúde. “Assim como muitos pesquisadores que se apaixonam pela ciência, também quero seguir esse caminho. Meu grande sonho é fazer história e ser reconhecido como fisioterapeuta dentro do meio acadêmico, contribuindo para a formação de novos profissionais, compartilhando conhecimento e ajudando a transformar vidas por meio da docência e da ciência”, revela.
Embora considere a possibilidade de empreender, seu foco principal está na carreira acadêmica e na atuação clínica voltada para a funcionalidade dos pacientes. “Hoje eu sei exatamente onde quero chegar e estou me esforçando para alcançar esse objetivo. Desejo atuar como professor, pesquisador e também como fisioterapeuta clínico, com ênfase na funcionalidade, seja em atendimentos particulares ou desenvolvendo estudos que ofereçam respostas e soluções práticas para os problemas da sociedade”, finaliza o mestrando.