Crianças e Internet
Especialista analisa o impacto dos algorítmos

A Câmara dos Deputados aprovou no dia 20 de Agosto um projeto de lei que estabelece novas regras para proteger crianças e adolescentes nas redes sociais. O texto, resultado de um acordo que aproximou parlamentares do PT e do PL, seguirá agora para análise do Senado. A proposta cria para as plataformas digitais um “dever de cuidado” em relação a menores de idade, impondo medidas específicas de proteção e prevendo responsabilização das empresas que descumprirem essas obrigações.
A votação ocorre menos de duas semanas após a grande repercussão do vídeo do influenciador Felca, que denunciou práticas de exposição e exploração de menores nas redes. O vídeo do Felca revelou como os predadores agem hoje em tempo real dentro das plataformas em que estão crianças e adolescentes.
A pesquisadora Jullena Normando acredita que o maior desafio é aprender a lidar com algoritmos que moldam o cotidiano das crianças e adolescentes, sem precedentes históricos. “O que estamos vivendo não é igual a TV, que você podia desligar, quando acabada a programação para as crianças. Agora, a timeline é contínua e ela é alimentada por preferências."
O debate deve começar com o letramento digital dos pais, dos educadores e dos próprios jovens. Mas, sobretudo, deve ser debatida a regulação. Regular não é censurar, mas é proteger, é impedir que as vidas e informação dessas crianças e adolescentes sejam colocadas em risco. Os sistemas não demonstram nenhuma preocupação real com a vida deles e no caso das IA's que simulam comunicação, mas não têm consciência, a situação ainda é mais preocupante. Mas há, sim, ferramentas possíveis, tecnologia disponível para controlar certos tipos de conteúdo, controlar a divulgação deles, a entrega deles.
Jullena Normando é publicitária, doutoranda sanduíche em Comunicação pela UFG e Universidade da Califórnia, em San Diego. Pesquisadora em Comunicação e Inteligência Artificial.