Medicamentos manipulados e industrializados: conheça as diferenças e garantias
Ambos seguem normas rígidas da Anvisa e asseguram eficácia e segurança, mas possuem finalidades distintas, explica especialista
Seja por meio de uma cápsula fabricada em larga escala ou de uma fórmula preparada sob medida, o propósito de todo medicamento é o mesmo: promover o bem-estar com segurança e eficiência. Diante da variedade de opções disponíveis, entre produtos industrializados e manipulados , é comum que surja a dúvida: os medicamentos manipulados são realmente tão confiáveis quanto os industrializados?
Segundo Cinthia Meireles, farmacêutica e coordenadora do curso de Farmácia da Universidade Tiradentes (Unit), a principal diferença entre ambos está na forma de produção. “O medicamento industrializado é fabricado em grandes quantidades pela indústria farmacêutica, seguindo rigorosamente as Boas Práticas de Fabricação (RDC nº 658/2022 da Anvisa). Já o manipulado é feito de forma personalizada, conforme a prescrição médica individual do paciente”, explica.
Essa possibilidade de personalização permite ajustar a composição conforme as necessidades específicas de cada pessoa, seja adequando a dosagem, combinando substâncias ou definindo a forma de apresentação, como cápsulas, cremes ou xaropes. “Enquanto os industrializados são desenvolvidos para atender um grupo de pacientes, os manipulados são pensados para um único indivíduo”, complementa Cinthia.
Rigor e segurança em ambos os casos
Uma das principais dúvidas entre os pacientes é se os medicamentos manipulados possuem o mesmo nível de segurança e eficácia dos industrializados. De acordo com Cinthia, sim. “Ambos precisam atender aos mesmos critérios de qualidade e segurança para terem autorização da Anvisa para comercialização”, reforça.
A especialista explica que, no caso dos medicamentos industrializados, são realizados extensos testes clínicos e de estabilidade antes de chegarem ao mercado. Já as farmácias de manipulação seguem normas técnicas e compêndios oficiais reconhecidos, garantindo a qualidade do produto final. “Esses estabelecimentos são regidos pelas resoluções nº RDC 67/07 e nº 87/08 da Anvisa, que estabelecem protocolos desde a aquisição da matéria-prima até o controle de qualidade, tudo sob supervisão direta do farmacêutico e da Vigilância Sanitária”, destaca.
Esse conjunto de normas é o que assegura a confiança do consumidor. Enquanto as indústrias precisam obter o certificado de Boas Práticas de Fabricação emitido pela Anvisa, as farmácias de manipulação passam por inspeções da Vigilância Sanitária local, que concede o alvará e o relatório técnico necessários ao funcionamento.
Qual escolher?
A escolha entre um medicamento manipulado e um industrializado depende, sobretudo, do tipo de tratamento e das particularidades de cada paciente. “Os manipulados são indicados quando há necessidade de personalizar a dose, associar princípios ativos ou ajustar a forma de administração. Já os industrializados são ideais quando se busca maior estabilidade, validade estendida ou quando há disponibilidade de opções comerciais seguras para uso contínuo”, detalha a coordenadora.
Outro ponto que pode influenciar na decisão é o preço. Em alguns casos, os industrializados, especialmente os genéricos, têm custo mais acessível. No entanto, Cinthia alerta que valores muito baixos em farmácias de manipulação podem ser sinal de alerta. “O preço de um medicamento manipulado envolve fatores como a qualidade da matéria-prima e a infraestrutura da farmácia. Por isso, é importante desconfiar de preços muito abaixo da média”, orienta.
A farmacêutica ressalta ainda que nem todos os medicamentos podem ser manipulados. “Algumas substâncias têm restrição, como a isotretinoína, além de medicamentos injetáveis, que não podem ser preparados em farmácias de manipulação”, esclarece.
Informação e confiança no processo
Mesmo com os avanços regulatórios, ainda há quem desconfie dos medicamentos manipulados. Para Cinthia, isso se deve, em parte, a casos isolados do passado e à desinformação. “Houve um período em que o setor não era tão rigorosamente fiscalizado, mas hoje a realidade é outra. As normas estão mais rígidas e o acompanhamento é constante”, afirma.
Ela reforça que o paciente também tem papel essencial na escolha segura. “É fundamental verificar se a farmácia é regularizada, se o farmacêutico acompanha o processo e se o estabelecimento tem histórico de credibilidade. O mesmo vale para os industrializados, dê preferência aos que têm registro na Anvisa e, sempre que possível, escolha genéricos ou similares bioequivalentes”, recomenda.
Por fim, Cinthia destaca que a melhor decisão é sempre aquela feita com orientação profissional. “Cada paciente é único. Em alguns casos, o medicamento manipulado será a melhor opção; em outros, o industrializado trará mais benefícios. Por isso, o diálogo entre o prescritor e o farmacêutico é indispensável para garantir eficácia, segurança e resultados terapêuticos satisfatórios”, conclui.