"O Brasil está atrasado na resposta às facções”, alerta Alessandro Vieira na CPI do Crime Organizado
A CPI do Crime Organizado avançou em temas centrais para o enfrentamento às facções criminosas durante a oitiva desta terça-feira (25), que contou com a participação de duas autoridades consideradas estratégicas no combate ao crime: o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, referência nacional no enfrentamento ao PCC, e o diretor de Inteligência da Polícia Federal, Leandro Almada. Ao longo da sessão, o relator da CPI, senador Alessandro Vieira (MDB/SE), conduziu questionamentos sobre lacunas tecnológicas, integração entre forças de segurança e o uso crescente de ferramentas digitais pelas facções.
Durante o debate, Alessandro destacou o “custo pessoal significativo” enfrentado por agentes públicos que atuam diretamente contra grupos criminosos e elogiou a trajetória de Gakiya. O promotor reforçou que as facções se estruturaram como empresas, com forte capacidade de infiltração financeira e institucional, defendendo que a resposta estatal precisa acompanhar esse grau de profissionalização.
A discussão avançou para o tema da integração entre forças policiais. Questionado por Alessandro, o diretor de Inteligência da Polícia Federal negou que exista qualquer barreira legal para o compartilhamento de informações entre PF, polícias estaduais ou instituições de outros países. Segundo Almada, a diretriz atual da corporação é justamente ampliar a troca de dados, e as limitações encontradas são pontuais, relacionadas ao estágio de determinadas investigações, não ao marco legal.
Almada também foi perguntado pelo senador sobre a segurança de ferramentas de análise digital, citando casos recentes de uso indevido da plataforma Cortex. O diretor explicou que o sistema pertence ao Ministério da Justiça, mas afirmou que a PF mantém rígidos mecanismos de auditoria para detectar acessos irregulares. Apesar dos riscos, segundo ele, esse tipo de situação não pode servir de justificativa para interromper a integração entre forças de segurança, que considera essencial.
Outro ponto abordado por Alessandro foi o investimento necessário para que a inteligência policial acompanhe a migração das facções para o ambiente digital. Almada afirmou que, além de ferramentas de análise avançada e sistemas automatizados para rastrear grandes volumes de dados, o país ainda precisa de maior capacidade tecnológica para lidar com crimes que envolvem criptomoedas, área onde as organizações criminosas têm encontrado mais facilidade.
O senador também levantou questões sobre o uso de fintechs e contas clandestinas para lavagem de dinheiro. Almada relatou que a Polícia Federal já identificava esse movimento e estabeleceu cooperação direta com o mercado financeiro, resultando em operações que levaram à primeira onda de ajustes regulatórios no setor.
Na etapa final, Alessandro pediu esclarecimentos técnicos sobre o modelo das FICOs (Forças Integradas de Combate ao Crime Organizado), que têm sido apresentadas como instrumento central de integração. Almada descreveu as FICOs como estruturas eficientes que reúnem, no mesmo ambiente, policiais federais, civis, militares e até guardas municipais, a depender do estado. Ele reiterou que o funcionamento das forças integradas não depende de mudanças constitucionais ou legais, mas de decisão institucional e vontade política dos entes envolvidos.
Ao final da sessão, Alessandro afirmou que os esclarecimentos reforçam a necessidade de estruturar melhor as polícias civis e investir em tecnologia, especialmente no ambiente digital, onde as facções têm ampliado sua atuação. Ele reiterou que a CPI seguirá cobrando dados, diagnósticos e propostas concretas para subsidiar o relatório que deve embasar as próximas ações legislativas de enfrentamento ao crime organizado no país.