Aracaju (SE), 25 de setembro de 2025
POR: Juliana Melo
Fonte: Juliana Melo
Em: 23/09/2025
Pub.: 23 de setembro de 2025

A resposta está na caixa :: Por Juliana Melo

Juliana Melo* 

Juliana Melo - Foto: Acervo pessoal

Caro leitor(a), eu gostaria de tomar a liberdade de perguntar se você, por um acaso, assustaria-se com você mesmo, caso pudesse enxergar a si próprio sob a circunstância do esquecimento total de quem você é? Acredito que, se você realmente quer ingressar nessa leitura, terá que ler novamente a pergunta.

Calma, eu não quero te dar trabalho, muito menos te tornar complexado com a sua imagem exterior, até porque este texto não tem nenhuma ligação com aparência física e, sim, com a beleza que emerge da caixinha de fábrica. Eu sei, a confusão tá piorando. Darei um jeito nisso nos próximos parágrafos.

Veja bem, certa vez, fiz a assinatura do HBO Max para testar por 7 dias. Delimitei esse prazo porque não queria um pagamento a mais no final do mês. Vai aí uma verdade: quando nos envolvemos com algo que mexe com a gente, adivinha, a gente nunca está no controle. Não seja iludido(a). Gosto de streamings, então… os sete dias transformaram-se em 30 em um piscar de olhos.

Quando comecei a procurar filmes e séries, achei vários conteúdos bons, e um deles, sendo mais específica, a primeira temporada da série O Turista, me chamou muito a atenção, direcionando meu pensamento ao título de um dos livros do Padre Fábio de Melo. Nada ainda, né? Sabe o que isso significa? Que você terá que colocar em prática o que a Dory te ensinou lá na infância: “nadar, continue a nadar”. A gente só sai do nada quando coloca o “r” no final da palavra. Sigamos então para os próximos parágrafos.

Quem me roubou de mim. Já ouviu falar nesse livro? Eu acho esse título incrível. Infelizmente, eu só posso trazer essa parte da obra como referência, porque nunca a li. Mas lerei. Esse é o ponto do texto que você descobre se concordamos ou não. A série não me roubou de mim. Eu não vou tornar esse texto tão simplório ao ponto de igualar a narrativa com a autoafirmação de que sou viciada em filmes e séries e eles me roubam de mim mesma. Never. Isso não acontece.

A série começa com um rapaz utilizando um veículo, no meio do nada, para fugir de alguém que, assim como ele, também está em um carro. Você se importa com spoilers? Eu aviso quando ele for aparecer, mas, antes disso, só queria lembrar que, na vida, às vezes, somos obrigados a nos sacrificarmos um pouco para recebermos mais.

Se você quer refletir, vamos continuar. Se você não permite uma coisa (o spoiler) em troca de outra (um olhar diferente sobre a série), então deixo aqui meu “até a próxima”. Não vou continuar te envolvendo com minhas palavras, porque você pode perder o controle e ser roubado(a) da sua escolha de não prosseguir, o que, nesse caso, não seria ruim. Ladrão que rouba ladrão, 100 anos de perdão. Roubar uma ideia ruim é prevenir que futuramente ela te roube. Enfim, foi muito interessante conversar com você, mesmo que por poucas linhas.

Hum! Fico feliz em saber que essas lineares escadas textuais te fizeram descer o olhar para esse parágrafo e que você aceitou ter uma má ideia roubada. Antes ela do que você, né? Se você já pretendia ficar, tenho que admitir: escolheu bem, modéstia à parte.

Continuando… O rapaz que está fugindo sofre um acidente que o deixa sob a condição do total esquecimento (lembra da pergunta? Estamos nadando). Sem saber por quem e por que estava sendo perseguido, o rapaz, que não lembra nem do próprio nome, esqueceu completamente quem ele era.

A busca incansável por respostas o fez questionar: eu sou uma pessoa boa? Estavam me perseguindo porque sou ruim? A pessoa ruim era a que me perseguia? Quem somos, uma verdadeira incógnita que todos os dias parece gritar por um gênio matemático capaz de achar o valor da letra. O problema é que estamos direcionando os pensamentos para o lugar errado, porque já temos a resposta de quem somos.

Todo ser humano tem dentro de si uma caixinha de fábrica chamada essência. Lá tem a resposta de quem somos. Viemos originalmente como pessoas boas, essa é a informação contida na caixa. Por isso o nome dela é essência, e não Pandora. O rapaz desmemoriado descobre que seu nome é Elliot e, mesmo não lembrando de nada, sente dentro de si que é uma boa pessoa.

Quando o protagonista esquece todas as escolhas que já fez na vida, fica livre para procurar no seu interior a chave que abre a essência. Quanto tempo você não se esvazia das suas escolhas erradas para procurar essa chave e abrir a caixa? A única forma de percorrer essa estrada é esquecer todos os malfeitos e voltar para a versão de fábrica.

Escolhas ruins? Então Elliot era mau? Não. Ele era o que a caixa dizia que ele é: bom. Você é o que a caixa diz que você é: bom(a). O problema são as escolhas que nos roubam de nós mesmos, mas, mesmo assim, optamos por elas.

Elliot, no último episódio da série, descobre que era traficante e, para transportar suas encomendas, maltratava horrivelmente sua mula de drogas: uma mulher marcada fisicamente pelas vezes que foi obrigada a transportar o produto escondido dentro do corpo. Elliot, que voltou à sua origem e abriu a caixa, percebeu que era bom, logo, ficou em choque quando descobriu. Perdeu o chão. Se assustou com ele próprio. Não com quem ele era, mas com quem ele tinha se tornado.

Ele não se sentia capaz daquilo porque, de fato, não era. Quando pegamos sementes de más escolhas e cultivamos dentro do nosso terreno, elas crescem como trepadeiras e grudam em todas as partes. Com isso, nem lembramos mais da caixinha de fábrica. É como se ela nunca tivesse existido. Mas ela sempre estará no mesmo lugar.

No dia a dia, parece impossível arrumar tempo para repensar nossas escolhas. No fim das contas, é o resultado delas que nos faz achar que somos maus. Não somos, apenas escolhemos mal na maior parte do tempo. As escolhas desencadeiam ações, e ações geram reações, como bem nos ensina tio Newton no ensino médio, o Isaac da Apple.

Se você não lembrasse mais das suas escolhas e descobrisse quem você é hoje e a que custo se tornou quem é, você se assustaria? Você perguntaria quais foram as escolhas que te roubaram de você? Você perceberia que perdeu a caixinha de fábrica no meio das trepadeiras?

Dói saber que fomos os responsáveis por perder a resposta que tanto procuramos, por esconder a caixinha como crianças malcriadas que enterram tudo no quintal e esquecem que tinham algo tão valioso. Vivendo por tanto tempo sem a essência por conta de escolhas concretizadas em atitudes imaturas. A gente não vai esquecer tudo como Elliot, mas podemos começar pegando uma pá para desenterrar a caixinha de fábrica, porque a resposta de quem você é está lá dentro. Essa missão nunca foi para Ethan Hunt, nem para matemáticos. Essa missão é tão fácil que você faz até melhor com os olhos fechados.

Obs.: a série foi cancelada pela HBO Max, e a Netflix lançou a segunda temporada. Este texto se refere apenas à primeira temporada.

*Jornalista profissional


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