Desafios da gestão escolar: como alinhar pedagogia e administração?

Pesquisa aponta que escolas com gestão integrada têm até 30% de desempenho superior no Ideb, mas desafios como falta de planejamento conjunto ainda persistem

Conciliar o cotidiano pedagógico com as exigências da administração escolar está entre os maiores desafios enfrentados por diretores e coordenadores educacionais no Brasil. Apesar de parecerem mundos distintos – o ensino e a gestão –, é justamente na intersecção entre eles que reside o potencial de transformação de uma escola.

Dados da pesquisa “Educação que Faz a Diferença”, realizada em 2020 pelo Tribunal de Contas do Estado do Ceará (TCE-CE) e pelo Instituto Rui Barbosa (IRB), mostram que escolas públicas com boa gestão integrada obtêm resultados até 30% melhores no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em comparação com escolas com gestão fragmentada. 

O levantamento analisou 60 redes de ensino municipais, com base em entrevistas com gestores, visitas técnicas e análise de dados educacionais, entre 2017 e 2019. O dado reforça uma realidade sentida por muitos profissionais: o sucesso da aprendizagem está diretamente ligado à forma como a escola é organizada e gerida.

Desafios

Segundo o Censo Escolar 2023, mais de 60% dos diretores de escolas públicas acumulam funções administrativas e pedagógicas sem contar com equipes especializadas. Isso acaba comprometendo o planejamento estratégico da escola e gerando decisões emergenciais, em vez de ações sustentáveis.

Outro fator de tensão é a falta de diálogo entre os setores pedagógico e administrativo. Muitas vezes, as prioridades divergem: enquanto a equipe pedagógica defende investimentos em projetos educativos, a administração se vê pressionada a cortar custos. Sem uma cultura de planejamento conjunto, a gestão escolar acaba operando em “duas velocidades”.

Possibilidades

Uma alternativa para enfrentar esses impasses é investir na formação de líderes escolares com visão sistêmica. O estudo “Gestão Escolar para Equidade”, promovido pela Fundação Lemann, em parceria com a Universidade de Harvard e o Instituto Natura, acompanhou escolas públicas brasileiras de 2018 a 2021 e apontou que a presença de diretores com formação em liderança e gestão integrada está associada à redução de até 18% nas taxas de evasão escolar.

A pesquisa foi feita com base em entrevistas, observação de campo e acompanhamento de dados, em 108 escolas, em sete estados brasileiros. Uma das principais conclusões foi a importância da escuta ativa, do planejamento colaborativo e da clareza de objetivos entre as equipes.

Além disso, a tecnologia vem ganhando espaço como facilitadora da gestão integrada. Plataformas de gestão escolar permitem centralizar informações acadêmicas e administrativas, agilizando a comunicação e a tomada de decisões. Mas o fator humano ainda é o mais decisivo: relações transparentes, objetivos compartilhados e um propósito pedagógico claro são elementos que nenhuma tecnologia substitui.

Gestão financeira 

Um levantamento publicado pelo Instituto Positivo, em 2022, com 200 gestores escolares de redes públicas e privadas de todo o país, revelou que 72% dos diretores consideram a gestão financeira um dos maiores desafios da função – atrás apenas da gestão de pessoas. A pesquisa foi feita por meio de entrevistas online e presenciais, com foco em identificar gargalos e boas práticas em escolas brasileiras.

Quando bem-feita, a gestão financeira escolar contribui para a estabilidade da instituição, permitindo investimentos em infraestrutura, tecnologia, materiais pedagógicos e formação docente. Mais do que números, trata-se de garantir condições reais para que os projetos educacionais se concretizem.

Além de garantir um bom desempenho pedagógico, uma escola eficiente deve manter o controle orçamentário e investir com responsabilidade. Por isso, entender os fundamentos de uma boa gestão financeira escolar é essencial para a saúde da instituição.

Resultados a longo prazo

Uma escola que une gestão financeira responsável com um projeto pedagógico sólido é capaz de enfrentar crises com mais preparo e continuar oferecendo educação de qualidade. Isso impacta diretamente a confiança das famílias, o bem-estar dos professores e, claro, o aprendizado dos alunos.

Nesse cenário, a figura do gestor escolar se torna ainda mais complexa e estratégica. Não basta dominar a pedagogia ou a administração – é preciso transitar entre ambas, com sensibilidade e planejamento.