Lucro contábil, caixa no vermelho: o alerta do conselho consultivo
Na superfície, a empresa parece estar indo bem. O Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE) indica lucro. Os indicadores contábeis mostram evolução.
Mas, quando o olhar se volta para o caixa, o cenário é outro: falta liquidez, sobram dívidas e o fôlego financeiro parece cada vez mais curto.
Essa desconexão entre o que os relatórios mostram e o que de fato acontece no dia a dia operacional não é rara.
E diante desse contexto, é aí que o conselho consultivo atua com precisão: enxergando além dos números e provocando questionamentos que muitas vezes não aparecem na rotina da gestão.
Com ampla experiência no ambiente corporativo, atuando como Advisor à frente da MORCONE, auxiliando e orientando empresas, especialmente empresas familiares brasileiras a se estruturarem para chegar aos 100 anos, observo padrões importantes de gestão que se repetem em diferentes segmentos.
Entre esses padrões, Carlos Moreira destaca o indiscutível papel do conselho consultivo para auxiliar empresas no aprofundamento da gestão financeira e na análise estratégica dos dados.
A ilusão do lucro: quando o DRE não conta a história completa
O DRE é um importante instrumento contábil que apresenta o resultado operacional da empresa em determinado período, mas não reflete, por exemplo, se a empresa realmente recebeu os valores das vendas realizadas ou se pagou todas as suas obrigações no prazo.
Essa diferença entre o lucro contábil e o dinheiro disponível é um dos motivos pelos quais a falta de disponibilidade financeira (caixa e bancos) não deve ser confundida com prejuízo contábil e vice-versa.
Vale destacar um problema corriqueiro entre muitos negócios: apresentar lucro contábil, mas, ainda assim, operar no vermelho devido a má gestão do fluxo de caixa.
Diante dessa realidade, ganha ênfase a atuação da controladoria estratégica, responsável por transformar dados contábeis em informação útil para a tomada de decisão, cruzando indicadores de diferentes áreas, monitorando riscos e alinhando o planejamento à realidade da operação.
Conselho consultivo como bússola em ambientes de baixa previsibilidade
Enquanto a contabilidade olha para o retrovisor, o conselho consultivo olha para o horizonte.
Por não estar envolvido diretamente na operação, o conselho tem a vantagem de atuar com neutralidade e visão sistêmica.
Seus integrantes, geralmente profissionais experientes de diferentes áreas, fazem perguntas estratégicas, desafiam suposições da gestão e promovem uma cultura de antecipação de cenários.
Relatórios como o Balanço Patrimonial e o DRE precisam ser interpretados em conjunto com outras ferramentas, como análise de fluxo de caixa, indicadores de endividamento e rentabilidade.
O conselho consultivo integra essa leitura ampliada, promovendo um alinhamento entre planejamento financeiro e decisões de médio e longo prazo. Como aponta este artigo da Morcone, um bom conselho é capaz de identificar se a empresa está de fato saudável ou se apenas aparenta estar.
O que o conselho consultivo enxerga além dos relatórios financeiros?
Ao avaliar o cenário real de uma empresa, um conselho consultivo atua em três frentes principais:
Sustentabilidade financeira
Lucro contábil não garante sustentabilidade. Um conselho atuante vai além dos números e analisa o comportamento do caixa, os ciclos de recebimento e pagamento, o comprometimento da margem com despesas fixas e o risco de inadimplência. Em tempos de juros altos e crédito restrito, essa leitura se torna ainda mais crítica.
Sinergia entre áreas e eficiência operacional
Problemas de caixa nem sempre são culpa da área financeira. Muitas vezes, estão ligados a falhas comerciais, estoques mal dimensionados ou decisões operacionais desalinhadas. O conselho consegue identificar essas disfunções e propor melhorias estruturantes.
Governança e tomada de decisão
A presença de um conselho consultivo estruturado contribui para um processo decisório mais profissional, baseado em dados, cenários e riscos. Principalmente em empresas familiares, o conselho atua como um “filtro estratégico” entre emoção e gestão, papel essencial para manter o equilíbrio em momentos de pressão.
Experiência que se transforma em visão estratégica
Ainda é comum vermos no mercado uma certa resistência à valorização da experiência profissional mais sênior.
Em alguns casos, há a percepção equivocada de que habilidades desenvolvidas ao longo de décadas podem estar ultrapassadas.
No entanto, o que se observa na prática é que conselheiros com bagagem em diferentes ciclos econômicos e vivência em cenários de complexidade agregam uma visão realista, madura e estratégica à empresa.
Mais do que nunca, a longevidade corporativa depende dessa combinação entre juventude, inovação e a solidez de quem já enfrentou diferentes contextos de mercado e sabe exatamente como equilibrar risco e oportunidade.
Controladoria estratégica e conselho consultivo: uma aliança que traz clareza
A controladoria estratégica organiza os dados, interpreta os indicadores e estrutura os relatórios.
O conselho consultivo, por sua vez, transforma essas informações em decisões consistentes, promovendo questionamentos relevantes como:
- Os resultados estão sendo gerados de forma recorrente ou pontual?
- A operação é eficiente ou o lucro depende de cortes emergenciais?
- O endividamento é sustentável ou está comprometendo a geração de valor?
- Há espaço para crescimento com segurança?
Essa parceria é fundamental para que a empresa alinhe seus planos ao que de fato é possível realizar, já que os conselhos ajudam a prevenir riscos e a proteger a saúde financeira da organização em contextos desafiadores.
A conta fecha no Excel, mas não no mundo real
É comum encontrar empresas com orçamentos robustos, metas ambiciosas e dashboards bem desenhados. Mas, quando se abre a conta bancária, a realidade é outra.
Essa disparidade entre o “planejado” e o “realizado” não se resolve apenas com ajustes na planilha. Exige uma mudança de mentalidade. E o conselho consultivo é, nesse processo, o pilar que sustenta o amadurecimento da gestão.
É papel do conselho orientar a empresa a alinhar expectativas com capacidade financeira, propor estratégias realistas e evitar que o desejo de crescer se transforme em uma armadilha de endividamento.
O conselho consultivo como guardião da saúde financeira
De acordo com o Relatório Anual 2024 do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), empresas que possuem conselhos consultivos bem estruturados apresentam maior capacidade de atravessar ciclos econômicos adversos, com práticas financeiras mais robustas e decisões mais embasadas.
Em linha com isso, o conselho consultivo atua como uma instância de validação crítica e estratégica na gestão financeira, garantindo maior solidez e longevidade para os negócios.
Toda empresa precisa de alguém que questione:
- De onde está vindo esse lucro?
- Quanto ele custa?
- Esse resultado é sustentável?
Nem sempre essas perguntas são fáceis de fazer, ainda mais internamente. Mas são absolutamente necessárias.
O conselho consultivo, quando bem estruturado, cumpre esse papel com assertividade, discrição e visão de longo prazo.
Seja em tempos de crise, seja em ciclos de crescimento, a presença do conselho funciona como um mecanismo de proteção e de orientação para uma gestão financeira sólida, conectada à realidade e preparada para decisões estratégicas.
Mercado corporativo definitivamente não é lugar para improvisos
Se você é gestor, sócio ou fundador, e percebe que os relatórios mostram lucro, mas o caixa grita por socorro, talvez seja hora de repensar sua estrutura de governança.
O conselho consultivo não é apenas um grupo de conselheiros. É um sistema de inteligência aplicada à sobrevivência e ao crescimento da empresa.
Implementar o conselho consultivo é o próximo passo do seu negócio? Vamos conversar.