As decisões que definirão a sobrevivência das empresas em 2026
O futuro das empresas não é definido no planejamento, mas na qualidade das decisões que sustentam esse planejamento.
Ao longo da minha trajetória acompanhando empresas, principalmente familiares em processo de amadurecimento, percebo um padrão recorrente: 2026 ainda é tratado como um horizonte distante, quase abstrato. Algo que será resolvido quando chegar a hora.
Esse é um equívoco silencioso, mas perigoso.
As empresas que estarão sólidas em 2026 não serão, necessariamente, as que tiverem o melhor orçamento ou o planejamento mais detalhado. Serão aquelas que, desde agora, estão tomando decisões mais conscientes, estruturadas e alinhadas a uma lógica de longo prazo.
Decidir bem deixou de ser uma vantagem competitiva. Tornou-se uma condição de sobrevivência.
Com ampla experiência no ambiente corporativo, atuando como Advisor à frente da MORCONE, Carlos Moreira tem auxiliado e orientado empresas, especialmente empresas familiares brasileiras, a se estruturarem para chegar aos 100 anos.
Neste artigo, o especialista traz reflexões sobre preparação, sobretudo, sobre a importância de focar na boa tomada de decisões.
O erro comum: tratar 2026 como algo distante
Ainda é comum associar a preparação para o futuro apenas ao ciclo orçamentário anual.
Planeja-se o próximo exercício, ajustam-se metas, revisam-se custos e acredita-se que isso seja suficiente.
No entanto, as decisões que realmente sustentam uma empresa não nascem no orçamento. Elas nascem antes, em escolhas estruturais que, muitas vezes, passam despercebidas no dia a dia operacional.
Alguns exemplos são claros:
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Postergar a profissionalização da governança;
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Centralizar decisões críticas em poucas pessoas;
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Evitar discussões difíceis sobre sucessão, riscos ou modelo de negócio;
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Tratar crescimento como sinônimo automático de saúde empresarial.
Essas decisões, ou a ausência delas, já estão moldando o desempenho de 2026. Ignorá-las agora significa lidar com consequências mais duras adiante.
O ambiente mudou e decidir ficou mais complexo
Nunca foi simples tomar decisões. Mas o contexto atual elevou esse desafio a outro patamar.
Vivemos um ambiente marcado por incertezas regulatórias, transformações tecnológicas aceleradas, maior pressão por transparência, restrições de crédito e mudanças constantes no comportamento de clientes e investidores.
Nesse cenário, decisões unilaterais se tornaram mais arriscadas. A intuição isolada, que já funcionou no passado, hoje pode reforçar vieses e ampliar pontos cegos.
Além disso, a complexidade aumentou. Uma decisão estratégica raramente impacta apenas uma área. Ela reverbera em finanças, pessoas, reputação, compliance e sustentabilidade do negócio.
É justamente por isso que empresas mais maduras passaram a rever não apenas o que decidem, mas como decidem.
Onde as empresas mais maduras estão investindo atenção?
Ao observar empresas que vêm construindo trajetórias consistentes, percebo um movimento claro: menos foco em respostas rápidas e mais atenção à qualidade do processo decisório.
Isso se traduz em alguns comportamentos recorrentes:
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Criação de espaços formais de reflexão estratégica;
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Valorização do questionamento estruturado;
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Busca por visões externas, complementares e experientes;
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Separação clara entre execução operacional e discussão estratégica.
É nesse ponto que o conselho consultivo passa a ocupar um papel central, não como uma exigência burocrática, mas como um instrumento de amadurecimento da gestão.
Conselho consultivo: menos validação, mais qualidade decisória
Ainda existe a percepção equivocada de que o conselho consultivo serve para “aprovar decisões” ou apenas conferir legitimidade ao que já foi definido.
Na prática, empresas que utilizam bem esse fórum fazem exatamente o oposto.
O conselho consultivo eficaz não existe para concordar, mas para elevar o nível do debate, reduzir vieses individuais e ampliar a capacidade da liderança de enxergar riscos, oportunidades e consequências de longo prazo.
Conselheiros experientes ajudam a:
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Testar premissas antes que elas virem apostas caras;
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Antecipar impactos que não aparecem nos relatórios tradicionais;
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Separar urgência operacional de decisões estruturais;
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Criar disciplina na análise de riscos.
Esse processo fortalece, de forma natural, a governança corporativa, pois introduz rituais, responsabilidades e uma lógica mais madura de prestação de contas.
Decisões estratégicas não nascem do improviso
Decisões estratégicas raramente falham por falta de informação. Elas falham por excesso de confiança, vieses não questionados ou ausência de contrapontos qualificados.
Quando uma empresa não possui um ambiente estruturado de discussão, algumas armadilhas se tornam comuns:
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Crescer sem avaliar a sustentabilidade financeira;
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Investir sem clareza de retorno ou sinergia com a estratégia;
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Manter estruturas inchadas por medo de mudanças;
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Evitar conversas difíceis em nome da harmonia momentânea.
O conselho consultivo funciona como um antídoto a esse improviso disfarçado de agilidade. Ele cria um espaço seguro para perguntas incômodas, aquelas que, muitas vezes, ninguém interno quer ou consegue fazer.
Governança corporativa como alicerce, não como formalidade
Outro ponto que merece atenção é a forma como a governança corporativa ainda é encarada em muitas empresas, principalmente entre as familiares.
Governança não é sinônimo de rigidez excessiva ou perda de controle. Pelo contrário. É um mecanismo para preservar valor, reduzir conflitos e garantir que decisões relevantes não dependam exclusivamente de pessoas, mas de processos.
Quando bem estruturada, a governança:
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Dá clareza sobre papéis e responsabilidades;
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Reduz riscos de decisões emocionais;
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Fortalece a confiança entre sócios, gestores e investidores;
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Prepara a empresa para ciclos de crescimento, sucessão ou captação.
Nesse contexto, o conselho consultivo atua como um pilar essencial, conectando estratégia, gestão de riscos e visão de longo prazo.
Um dado que reforça essa tendência
Não é por acaso que a busca por orientação estratégica tem crescido de forma consistente.
Dados recentes da Fortune Business Insights apontam que o setor de consultoria em estratégia, operações e organização deve movimentar cerca de US$ 243 bilhões até 2027, evidenciando a relevância crescente desse tipo de apoio nas decisões empresariais.
Esse movimento não indica fragilidade das lideranças, pelo contrário, indica maturidade. Empresas mais conscientes entenderam que decidir melhor é mais importante do que decidir sozinho.
2026 não será vencido por quem decidir mais rápido
Ao olhar para frente, acredito que 2026 não será um ano desafiador apenas por fatores externos. Ele será um divisor de águas entre empresas que amadureceram sua forma de decidir e aquelas que seguiram apostando em modelos centralizados e reativos.
Decidir rápido pode ser necessário em alguns momentos. Mas decidir bem, com método, reflexão e contrapontos qualificados, será determinante.
O conselho consultivo, quando bem utilizado, não engessa, mas sustenta. Não atrasa, qualifica. Não substitui a liderança, a fortalece.
As decisões que vão sustentar sua empresa em 2026 já estão acontecendo ou estão sendo adiadas.
A pergunta que deixo não é sobre planejamento, orçamento ou metas. É mais profunda:
Sua empresa tem hoje um ambiente que favorece decisões estratégicas maduras? Ou ainda depende excessivamente de intuição, histórico e coragem individual?
O futuro não será construído por quem fala mais alto ou decide mais rápido, mas por quem tem a maturidade de decidir melhor.
E, cada vez mais, isso passa pela qualidade do diálogo estratégico que a empresa é capaz de sustentar hoje.
Carlos Moreira - Há mais de 37 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria), CCO (Diretor Comercial e de Marketing). e Conselheiro Administrativo.