Sergipanos estudam possível uso de substâncias da cannabis contra tumores de câncer
As pesquisas feitas por dois alunos de doutorado da Unit têm a participação da UFSC; Além de desenvolver uma nova técnica de extração, eles analisam o efeito das substâncias no tratamento contra um tipo comum de câncer de pele

Dois pesquisadores da Universidade Tiradentes (Unit) iniciaram pesquisas mais aprofundadas que podem auxiliar no desenvolvimento de tratamentos e medicamentos derivados de substâncias da Cannabis spp e de suas variações, incluindo a cannabis sativa. Os pesquisadores Rafael Barreto Vieira Valois e Ciro Ribeiro Brito Amorim, alunos de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PEP/Unit), vão desenvolver teses de doutorado relacionadas a novas técnicas de extração, concentração e purificação de canabinoides destinadas ao desenvolvimento e produção de medicamentos.
As pesquisas, orientadas pelo professor Cláudio Dariva, do PEP/Unit, acontecem em regime de doutorado-sanduíche, com parte dos trabalhos sendo desenvolvidos no Pólo de Desenvolvimento e Inovação em Cannabis (Podican), ligado ao Centro de Ciências Rurais da Universidade Federal de Santa Catarina (CCR/UFSC). Considerado uma referência nacional em estudos científicos sobre a planta, ele fica na cidade de Curitibanos (SC), onde Ciro e Rafael vão permanecer por cerca de seis meses, atuando nos laboratórios da UFSC.
A tese de Ciro debruça-se sobre o desenvolvimento de um processo de extração criogênica para concentração e purificação de canabinoides a partir da Cannabis sativa L. Já a de Rafael avalia o potencial terapêutico via atividade antitumoral in vitro e in vivo do canabidiol (CBD) obtido por um processo criogênico combinado com líquidos pressurizados. Para além de desenvolver uma nova técnica de extração, a partir da diluição da cannabis, o objetivo é analisar é o efeito das substâncias canabinóides sob os tumores provocados pelo carcinoma espinocelular, um tipo comum de câncer de pele que é causado principalmente pela exposição solar acumulada.
Este, aliás, é o desdobramento de uma pesquisa de iniciação científica que estudou especificamente o efeito da substância sobre os tumores ligados ao câncer de boca. Foi realizada em 2024 pelas alunas Sofia Maynard Araújo Machado e Yasmim Nunes Medeiros (do curso de Odontologia) com participação de Ciro e Rafael, e que ficou em primeiro lugar na 25ª Jornada Odontológica da Unit (XXV Jout).
De acordo com Rafael Valois, este estudo de iniciação científica fez parte dos trabalhos da Liga Acadêmica de Estudos da Cannabis (Laec) e se baseou em uma revisão de literatura, com análises e comparações de pesquisas anteriores que se debruçaram sobre o assunto. “Nós seguimos uma metodologia para fazer um trabalho de revisão sistemática, a mesma que utilizamos no doutorado, pra poder desenvolver a revisão de literatura. Minha tese é sobre a utilização do CBD obtido por um novo processo de extração por atividade antitumoral. Uma das linhagens celulares que tem aqui no laboratório da UFSC é a Carcinoma Espinocelular (CEC). Iremos testar em algumas e não somente nesta”, detalha.
Mais pesquisas
Outras duas pesquisas de iniciação científica realizadas no âmbito do Laec deverão ser publicadas brevemente como artigos científicos em revistas especializadas: um sobre a atividade analgésica da Cannabis spp. na dor orofacial e outra sobre o uso das substâncias da planta no tratamento da estomatite aftosa recorrente, conhecida como afta. Em março deste ano, eles ficaram entre os 15 melhores trabalhos avaliados no Congresso Nacional Multidisciplinar de Inovação em Saúde: da assistência à gestão, também realizado na Unit. Estes foram convidados para submissão no Caderno de Graduação Ciências Biológicas e da Saúde, da Editora Universitária Tiradentes (Edunit), em sua edição especial relativa ao congresso.
Estes trabalhos também se baseiam em revisões bibliográficas conduzidas de acordo com a metodologia de revisão sistemática. A partir de uma pergunta norteadora, os pesquisadores e estudantes buscaram, quantificaram e qualificaram as evidências disponíveis na literatura, utilizando o aplicativo Rayyan como ferramenta para organização e seleção dos estudos. Rafael Valois destaca que os estudos da Laec contribuem significativamente para a sociedade, ao unir rigor científico e diálogo aberto sobre o uso terapêutico da Cannabis.
“Ao investigar condições de alta prevalência e impacto na qualidade de vida, como a estomatite aftosa recorrente e a dor orofacial, os trabalhos ampliam o repertório de opções terapêuticas, fomentam a inovação em saúde e fortalecem a formação de profissionais capazes de atuar com base em evidências. Essa produção de conhecimento não apenas ajuda a desmistificar e reduzir o estigma em torno da planta, mas também favorece políticas e práticas mais seguras, eficazes e socialmente responsáveis, alinhando ciência, saúde pública e bem-estar coletivo”, diz o doutorando.
Ao todo, a Laec já soma 11 trabalhos apresentados em jornadas, congressos e eventos, resultando ainda em 11 publicações em anais de revistas, quatro premiações (duas locais e duas nacionais) e dois artigos em desenvolvimento, além da participação em dois grandes eventos nacionais. Um deles será a ExpoCannabis Brasil, segunda maior feira de Cannabis spp. do mundo, que acontecerá entre 14 e 16 de novembro, em São Paulo (SP).