Produtos cruelty free ganham espaço e refletem novo perfil de consumo ético
Escolhas que priorizam o bem-estar animal e fórmulas mais limpas impulsionam mudanças na indústria de cosméticos e higiene pessoal no Brasil e no mundo
Muitos dos produtos presentes nas prateleiras de farmácias e lojas de beleza ainda carregam práticas que envolvem sofrimento animal. O termo cruelty free – livre de crueldade – identifica itens que não são testados em animais em nenhuma etapa de desenvolvimento, uma escolha que vem ganhando força entre consumidores que priorizam o bem-estar animal, a sustentabilidade e a ética na indústria.
O conceito surgiu na década de 1970, junto dos primeiros movimentos pelos direitos dos animais, mas só nas últimas duas décadas passou a influenciar de forma mais consistente os hábitos de consumo e a postura das empresas.
Apesar dos avanços em métodos alternativos, como testes in vitro e simulações computacionais, milhões de animais ainda são utilizados anualmente em laboratórios. Segundo estimativa da organização Cruelty Free International, mais de 115 milhões de animais são submetidos a testes todos os anos no mundo – número baseado em dados fornecidos por autoridades reguladoras e centros de pesquisa, compilados em 2020.
No Brasil, um levantamento conduzido pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), em 2021, revelou que 73% da população prefere marcas que não testam em animais. A pesquisa foi realizada com dois mil participantes, de todas as regiões do país, e indica uma mudança importante no comportamento do consumidor, que passou a considerar o impacto ético e ambiental dos produtos que consome.
Cuidado nas fórmulas
Empresas que adotam o selo cruelty free geralmente estendem esse compromisso para outras etapas da produção. É comum que esses produtos apresentem fórmulas mais limpas, com ingredientes naturais e embalagens sustentáveis. Esse cuidado amplia o impacto positivo da escolha, ao reduzir danos tanto ao meio ambiente quanto à saúde humana.
Além de não serem testados em animais, muitos produtos cruelty free também trazem fórmulas mais limpas, como o desodorante sem alumínio, os shampoos naturais, que oferecem proteção eficaz sem abrir mão do cuidado com a saúde e com o meio ambiente.
A ausência do alumínio em alguns antitranspirantes tem atraído atenção após estudos apontarem possíveis ligações entre o uso prolongado dessa substância e alterações celulares nas glândulas mamárias.
Uma pesquisa publicada na revista Journal of Inorganic Biochemistry, em 2017, analisou tecidos mamários humanos expostos ao alumínio e sugeriu que o metal pode interferir em processos biológicos sensíveis, embora não tenha estabelecido uma relação direta com o câncer.
Essas mudanças nas fórmulas refletem uma preocupação crescente da indústria com ingredientes que vão além da eficácia, contemplando também aspectos de segurança e impacto ambiental.
Pressão do mercado e futuro da beleza consciente
O mercado de cosméticos e produtos de higiene pessoal sem crueldade tem crescido de forma constante. Segundo projeção da consultoria Statista, o segmento global de produtos veganos e cruelty free deve ultrapassar US$ 20 bilhões até 2028, impulsionado por uma demanda cada vez mais crítica em relação à origem dos itens de consumo diário.
A movimentação do setor também é influenciada por legislações mais rígidas em alguns países e por plataformas que incentivam a transparência, como bancos de dados públicos de certificações e selos de responsabilidade socioambiental. No Brasil, iniciativas como a proibição de testes em animais em determinados estados, entre eles São Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas, reforçam a direção que parte da indústria já vem tomando.
Optar por produtos cruelty free significa apoiar um modelo de produção mais ético, alinhado com avanços científicos e preocupações ambientais. Em um setor tão presente no cotidiano, cada modelo reformulado e cada escolha feita pela indústria ou pelo consumidor ajudam a moldar um cenário em que beleza e responsabilidade caminham juntas.
