Universitários se preparam para desenvolver drones autônomos e aeromodelos
Estudantes de Engenharias e de Computação da Unit pretendem construir os aparelhos para participar de competições nacionais de aeromodelismo; projeto existente desde 2022 estimula a prática de conhecimentos nestas profissões

Uma equipe formada por estudantes e professores da área de Exatas da Universidade Tiradentes (Unit) está se preparando para projetar, desenvolver e construir protótipos de drones autônomos e de aeromodelos, que devem ser usados em futuras competições nacionais na área de aerodesign e aeromodelismo. Esse trabalho vem sendo desenvolvido pelo Projeto Corvos Aerodesign, que conta hoje com a participação de 20 estudantes dos cursos de Engenharia (Civil e Mecânica) e Tecnologia da Informação (Ciências da Computação), sob orientação do professor-doutor Silvio Leonardo Valença.
Ao longo deste ano, os integrantes da Corvos estão passando por um período de capacitação e treinamento, que objetiva a participação da equipe em competições nacionais a partir de 2026. Entre elas, estão a SAE Brasil Aerodesign, dedicada aos aeromodelos, e a EletroQuad, que reúne drones autônomos, ambas organizadas pela Sociedade de Engenheiros Automobilísticos (SAE Brasil). A meta é preparar os estudantes para projetar, desenvolver e operar um aparelho para cada competição: um aeromodelo padrão operado por controle remoto e um drone capaz de percorrer sozinho uma rota pré-programada por computador, sem a necessidade de ter um piloto remoto.
Um dos desafios a serem enfrentados pelos alunos está na construção dos drones, que podem ter três ou quatro motores, mas estes precisam funcionar em sincronia e na mesma potência, para manter a potência e o equilíbrio necessários à sustentação do voo. É um funcionamento diferente dos aeromodelos, que se assemelham à miniatura de um avião e são movidos por um único motor. Tanto a construção dos drones quanto dos aeromodelos devem atender a rigorosos critérios técnicos e de segurança determinados pela SAE e por outros órgãos de controle, incluindo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
O orientador Sílvio Leonardo destaca que o projeto Corvos vai muito além do desafio técnico de construir e colocar no ar um protótipo aéreo. “Ele representa uma poderosa ferramenta de aprendizado prático e multidisciplinar, permitindo que nossos estudantes integrem conhecimentos de engenharia mecânica, elétrica, mecatrônica, gestão de projetos e trabalho em equipe. Na Unit, acreditamos em uma formação que alia teoria e prática, e o Corvos materializa essa filosofia. Por meio dele, nossos alunos desenvolvem competências essenciais para o mercado de trabalho, como resolução de problemas reais, criatividade aplicada, planejamento estratégico, liderança e espírito de inovação”, define.
A Corvos Aerodesign surgiu a partir do encerramento de outra equipe formada nas Engenharias da Unit: a Cabuto, formada em 2017 e que se desfez em 2022. Suas atividades tiveram uma pausa no ano passado e foram retomadas neste ano, após um processo de reestruturação. Uma novidade em relação à configuração original da equipe, a presença de especialistas em computação, que se juntam ao time de engenharia para fazer a programação dos aparelhos e desenvolver soluções que agilizem e melhorem os processos de feitura e planejamento dos protótipos.
“A ideia é que o pessoal de engenharia faça a parte de desenvolvimento do processo em si, como os cálculos para se fazer a estrutura e a aerodinâmica do sistema, a parte de controle e vibração do aeromodelo, enquanto o pessoal de computação tem como função principal otimizar e agilizar nossos processos. O que acontece principalmente é que nós temos muito livro de como fazer cada projeto na mão, cálculo por cálculo. Porém, nós sabemos que esse cálculos podem ser otimizados por um sistema desenvolvido para isso. A ideia é que o pessoal de programação chegue junto, pense em algo junto com a gente para que as gerações futuras possam acelerar esse processo”, explica o capitão da equipe, Yan Victor Melo Aragão, aluno do nono período de Engenharia Mecatrônica.
Ele evoca essa união de esforços para definir o espírito do projeto Corvos: conectar o trabalho de construção de uma aeronave e de um drone com o aprendizado e a prática da engenharia e da computação. “É um local que vai realmente formar profissionais de ponta, porque fazer um avião desse voar é trabalhoso, mas tem uma gratificação final. Eu sempre falo aos meninos que a gente vai chegar a momentos nos quais todo mundo estará estressado, mas no momento que esse avião estiver voando, todos vão chorar de felicidade. Isso paga todo o esforço, sim, pois é o que importa. Independente dos problemas, a gente vai estar junto pra fazer isso voar. E eu acho que é isso que importa, sabe? Porque é aí, principalmente, que a engenharia e a programação vão se unir, no propósito de fazer o avião voar”, descreve Yan.
Um destes novos integrantes da Corvos é Fernando Lucas Gonçalves Cruz, do quinto período de Engenharia Mecânica. Apaixonado por aviação, ele conta que foi incentivado a fazer o curso na Unit em uma edição da Feivest (Feira do Vestibular), quando viu uma demonstração da equipe de aerodesign. “Além de toda a aplicação do conhecimento que é passado em sala de aula sobre as matérias de estruturas, aerodinâmica e tudo mais, aqui a gente aprende muito a conviver com outras pessoas, a desenvolver um trabalho de engenharia colaborativo”, diz ele, que pretende seguir carreira na indústria aeronáutica. “A experiência de você projetar um avião desse é muito desafiador, porque envolve muito a inovação na engenharia”, completa.
O professor Sílvio destaca os impactos significativos que o projeto Corvos traz para a comunidade sergipana, contribuindo para o fortalecimento da cultura científica e tecnológica no Estado, além de integrar a equipe com outros grupos de aerodesign e aeromodelismo que atuam em Sergipe e na região Nordeste. “Ele inspira jovens a seguir carreiras nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) e posiciona Sergipe no cenário nacional da inovação. Além disso, estimula a criação de uma rede colaborativa entre universidades, empresas e escolas locais, promovendo o desenvolvimento regional sustentável com base no conhecimento e na educação de qualidade”, afirma.