Fim de limite etário para magistério de Aracaju abre espaço para novas trajetórias na educação
Aos 54 anos, Roberto Dantas viveu um dia que parecia impossível há poucas semanas. No dia 29 de setembro, entrou em uma das salas da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Juscelino Kubitschek, no bairro Coroa do Meio, para dar sua primeira aula de Ensino Religioso. O sonho de estar diante dos alunos, atrás do birô, tinha sido adiado por mais de três décadas e, até pouco tempo atrás, também estava fora de alcance.
Isso porque, até este ano, uma lei municipal impedia que pessoas com mais de 50 anos prestassem concurso para o magistério em Aracaju. A realidade mudou com a sanção de lei encaminhada pela prefeita Emília Corrêa à Câmara Municipal e aprovada pelos vereadores. A nova legislação derrubou o limite de idade e abriu caminho para profissionais experientes como Roberto iniciarem uma nova trajetória na educação pública.
“Foi uma conquista e um presente, porque é uma valorização dessa faixa de trabalhador que está no seu auge, ainda tem muito a contribuir. Foi muito maravilhoso porque criou uma nova realidade para esses professores. Era um sonho meu, então eu paro e penso que eu consegui”, celebrou o professor.
Roberto está entre os 190 professores que já foram chamados para atuar na rede municipal de Aracaju desde maio, quando o concurso foi homologado. No total, 425 candidatos foram aprovados para o provimento de vagas e formação de cadastro de reserva e estão sendo incorporados gradativamente à rede para atender às necessidades das escolas.
Apesar de ter nascido em uma família com várias professoras, ele optou pela Administração e entrou no ramo petrolífero, onde trabalhou por vários anos. O desejo pela sala de aula ficou adormecido, mas foi vibrando aos poucos ao longo de sua vida, até que o levou a cursar Ciências da Religião na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Após a conclusão da graduação, em paralelo à vida administrativa, se preparou para prestar seu primeiro concurso no campo do magistério. Foram quase dois anos intensos de estudos até o último certame da Secretaria Municipal da Educação de Aracaju.
O esforço deu resultado. Aprovado, Roberto foi convocado para lecionar a matéria de Ensino Religioso a alunos das turmas do 6º ao 8º ano, garantindo, com sua formação, um enfoque científico e diversificado à disciplina. “É preciso entender o contexto da disciplina do Ensino Religioso, que antes era vinculada a tradições religiosas, a aulas catequéticas. Hoje, a predominância deve ser da ciência, do olhar científico para esse fenômeno religioso que perpassa a sociedade. Nessa área específica, busco dar essa contribuição com a questão da diversidade religiosa, racial e de gênero. Ou seja, todas essas questões que exigem uma reflexão da sociedade”, completou.
Para Roberto, a presença em sala de aula tem um sentido duplamente educativo. Além de demonstrar o poder de um sonho de que não desistiu, espera ser um espelho para os alunos sobre longevidade e prosperidade no exercício profissional.
“Na minha faixa etária, alguns professores estão pensando em parar, porque realmente é uma profissão que exige uma uma entrega total, mas eu ainda estou naquela fase em que parece que eu estou começando agora a minha carreira profissional. Espero não perder isso também, e certamente não vou, porque é um sonho que agora estou realizando”, disse ele.