Brincar é coisa séria: o papel da Terapia Ocupacional no desenvolvimento infantil

No Dia das Crianças, é comum falar de brinquedos e diversão, mas o brincar vai muito além do lazer. Por meio das brincadeiras é possível estimular habilidades importantes, como coordenação motora, atenção, linguagem, interação social e até a autonomia para atividades do dia a dia. Em crianças com atrasos no desenvolvimento ou com condições como autismo, TDAH e deficiências físicas, o brincar terapêutico tem ainda mais relevância, podendo transformar desafios em oportunidades de aprendizado.
Para a terapeuta ocupacional Gabrielle Lucindo, especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA) e em Integração Sensorial de Ayres, o brincar é a base para o desenvolvimento de qualquer criança. “Como principal ocupação, ele é responsável por ajudar a criança a desenvolver habilidades que serão usadas para o resto da sua vida. Nele normalmente estão envolvidos estímulos motores, cognitivos, sociais e dentre outros”, afirma.
- De que forma a brincadeira pode ajudar em crianças com atrasos no desenvolvimento ou com diagnósticos como autismo e TDAH?
O Terapeuta Ocupacional usa o brincar como objetivo de meio e fim no desenvolvimento de crianças atípicas. Normalmente elas têm dificuldade nesse processo, pois brincar não é tarefa fácil, exige tempo de espera, interação, controle inibitório, desenvolvimento motor e cognitivo dessas crianças, que, em grande parte, estão deficitárias.
“Então utilizar o brincar como MEIO é a melhor forma de acesso a uma criança, principalmente com algum transtorno de neurodesenvolvimento e, como esperamos em marcos do desenvolvimento, também é importante que seja o nosso objetivo final, pois o brincar é parte da infância”, explica Gabrielle.
- Quais tipos de brincadeiras ou atividades lúdicas você costuma indicar para estimular diferentes habilidades?
“Não costumo indicar brincadeiras específicas e sim enfatizar a necessidade de considerar que a criança com atraso é uma criança como qualquer outra, então manter a espontaneidade, valorizar o sensório social e respeitar os gostos e preferências da criança pode ser eficaz para garantir uma boa participação e interesse dos pequenos”, relata.
- Como os pais e cuidadores podem adaptar as brincadeiras em casa para que sejam inclusivas?
Para a terapeuta, a melhor forma de adaptar as brincadeiras e garantir o engajamento, é graduando-a de acordo com a dificuldade da criança. “Facilitar o processo oferecendo desafio na medida certa é o que vai garantir efetividade da criança na participação da brincadeira. Evitar brincadeiras com alto nível de complexidade para crianças que não tem boas habilidades motoras vai desestimulá-la, mas não quer dizer que a gente não possa tornar mais fácil para aquele contexto específico”, enfatiza.
- De que forma os familiares podem participar do processo terapêutico e das brincadeiras propostas?
“A melhor forma dos pais participarem do processo é estar sempre atento às orientações e tentar, ao máximo, replicá-las nos contextos fora do contexto clínico pois vai permitir que a criança consiga generalizar o que aprendeu em um espaço controlado”, finaliza Gabrielle.